terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Em branco

Neste hiato entre a minha mais recente passagem por aqui e hoje, foram diversas situações que são um prato cheio pra um blogueiro: natal; fim de ano; o esforço pra desaprender minha velha gramática e aprender uma nova; a estreia (olha a nova gramática aí gente!) da quinta temporada de Lost; velhos pensamentos e aprendizados – como uma viagem que fiz em agosto do ano passado à Noruega e que ainda não consegui postar, mas este vai ser um capítulo a parte; dois noivados; um casamento (não meus, diga-se de passagem); a realização do FSM em Belém e, enfim, ler e assistir, necessariamente nesta mesma ordem, o/ao “Ensaio sobre a cegueira”. O escolhido. Acho que é um assunto pra todos os tempos, pra todas as ocasiões, pra todas as pessoas...

Meu primeiro passo é falar do livro, o preferido.

Um livro que não me acrescente absolutamente nada deve ser banido da minha mente. Um livro que já começa ensinando e, principalmente, me tornando uma pessoa melhor, vira minha bíblia.
De tudo o que eu já li a respeito, das críticas (quase inexistentes – ao livro, reitero) aos elogios, foram diversos pontos de vista destoantes. E não tem como ser diferente, já que cada um só pode transcrever o que sente se colocando no lugar daquelas pessoas sem nome. Também, nome pra quê? Aí é que vem, na minha opinião, o primeiro grande ensinamento do livro: de que é feita a sociedade? De convenções, conceitos e preconceitos, no sentido literal da palavra. O mínimo que a gente pode tirar disso tudo é que, quando vivemos no nosso limite, tudo o que aprendemos durante toda uma vida, vai por água abaixo; todas as nossas crenças, pudores e convicções. E aí também caem por terra as teorias sobre as classes, as raças, o dinheiro, ... E eu lembrava daquela velha passagem bíblica: “viemos do pó e ao pó voltaremos”. Somos todos iguais e, ainda por cima, interdependentes.

Como seria um mundo cego? Exatamente como José “Nostradamus” Saramago previu. O mundo seria completamente diferente daquilo que chamamos de “civilizado” e as pessoas bem próximas daquilo que denominamos como “animais” ou “abutres”. É que num mundo literalmente sem um sentido (o da visão) lutar pela sobrivência é muito mais difícil e completamente além do pior cenário que nós, meros mortais – com exceção do imortal Saramago – podemos imaginar. E então os julgamentos tornam-se, mais que desnecessários, injustos. E eu passo a ver como a interrogação pode mudar o sentido de tudo. São duas formas de pensar: pela vida tudo é válido. Ou, pela vida tudo é válido? E, despidos de preconceitos, entregar-se à compaixão do próximo e à nossa própria sorte é uma saída. Morrer é a outra.

E eis que tudo clareia, ou escurece, visto que a cegueira era de uma luz indescritível, ou descritível só por Fernando Meirelles. E o mundo volta a enxergar. O futuro dos personagens sem nome fica a nosso cargo, sob a nossa interpretação. E, quando fechamos a última página branca do livro, somos nós que voltamos a enxergar. Mas a enxergar um novo mundo, com outros olhos. Com os olhos de um cego.