terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Aprendizados

Trabalho na Alunorte desde 08 de setembro de 2003. Aliás, trabalho na Alunorte antes, desde 2002, quando ainda era terceirizada, repórter do jornal da empresa. Desde 2002 conheço um programa chamado “Bola pra Frente, Educação pra Gente”, desenvolvido em parceria com a Secretaria de Educação do Município de Barcarena.Conheço e divulgo: releases, cartazes, notas, peças, outdoors, minidoors, miniminidoors, papéis de bandeja etc.etc.etc. O programa, que alia o esporte à educação, consiste em selecionar 18 (bons) estudantes das 24 escolas públicas do município para disputar o maior torneio de futebol infanto-juvenil do mundo, a Norway Cup, realizada anualmente, em Oslo, no mês de julho. Não tem notas azuis? Não entra no time...

Enfim... a minha tática para “fisgar” jornalistas, público interno e afins era o caráter socioeducacional do programa e a mudança de realidade desses 18 meninos, que vivem em comunidades ribeirinhas e suam, doam mente e corpo para conhecer a Europa como bons estudantes e jogadores que são. Vocês podem imaginar o que são 7 anos falando sobre o mesmo assunto, procurando novas fórmulas, mas sempre o mesmo assunto... Ele acaba sendo parte da rotina (até porque o técnico do time - o voluntário 9e anjo...
esse homem não pode ser desse mundo!) Alberto Muller – trabalha na mesma sala que eu, ao meu lado) e, como tudo o que é rotina, passa despercebido pela gente e acaba deixando o encanto escondidinho, de lado. Por mais entrevistas que se faça, por mais meninos que se conheça, o dia-a-dia vai escondendo toda a magia que há por trás de tudo isso.

Não. Não vou fazer propaganda da empresa que trabalho. Quero falar da realidade que conheci de perto.

Acontece que, em fevereiro de 2008, fui convidada pela empresa a acompanhar a comitiva do Alunorte Rain Forest, esse é o nome do time. Meu trabalho era cobrir os jogos, acompanhar tudo, entrevistar, falar com a imprensa, escrever em um blog (arf2008), tirar fotos e, de quebra, trabalhar como tradutora. Pensei: “Hum... Noruega!”. Depois pensei: “Ih, 18 adolescentes de 14 a 17 anos...”. Enfim. Manda quem pode... e o resto vocês já sabem.

De fevereiro a julho, mês em que é realizada a copa, ainda tínhamos um longo trabalho, que ia de visita às redações de Belém (Tvs, rádios e jornais) até passeios culturais, para que eles conhecessem melhor a realidade do Estado que já era beeem diferente da realidade deles.

O primeiro contato que tive com o grupo todo foi em um lugar chamado “Museu Emílio Goeldi”, em Belém. Um museu que reúne fauna e flora amazônicas. E, quando se fala em fauna amazônica, obviamente, fala-se em jacaré. E em Belém, quando se fala em jacaré, fala-se em Alcino, o ícone do museu. Não sei bem ao certo quanto mede o Alcino. Uns 4 metros, talvez. Sei que é gigantesco. Todos entretidos com aquela obra de arte, quase imóvel, da natureza, quando um dos meninos diz: “Égua! Olha que vive cheio de jacaré lá em casa, mas desse tamanho aí, nunca tinha visto”. Como assim, eu perguntei. “O último que meu irmão pegou pra criar, o vizinho matou, antes de ele crescer”. Vi o quanto tinha a aprender por aí. Oslo não seria nada perto do ensinamento dessas crianças. O que era Olso perto da comunidade de “Jacaré - quara”, que essa criança morava?

Continua em breve...

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Rendição

Ainda embriagada pelo Saramago, resolvi, em seguida, assistir ao filme. Não sei se foi erro ou acerto, mas esse é um ritual invariável que me impus desde sempre: primeiro o livro, depois o filme.

Se eu tivesse ao menos dado um espaço de uma semana, talvez minha primeira impressão tivesse sido diferente. Sinto até peso na consciência de ter tido essa primeira impressão. Explico, mas não justifico: tinha acabado de ler um livro fortíssimo, com narrativas e cenários que me aterrorizavam, enojavam, mas me instigavam e encantavam. E dou de cara com um cenário limpo, tendo como referência o livro, com pessoas muito menos perturbadoras do que imaginei. E aí pensei que o Saramago tinha razão quando dizia que a filmagem tolhe a nossa imaginação.
Achei um filme lindo, uma direção sensacional, mas não impecável. Só que me achei ridícula de criticar o Fernando Meirelles, então fui procurar opiniões de quem entendesse mais de cinema do que eu, pra ver se mudava a minha opinião. Sim, não tenho problema nenhum em mudá-la e, nesse caso, até queria. Que tal uma especialista em audiovisual? Ellen Macedo me elucidou alguns pontos que já me fizeram repensar minhas próprias teorias.


Como seria um filme tal qual um livro? Um filme de horror, no mínimo. Ou, como o próprio Fernando Meirelles falou, um “filme de zumbis”. Então comecei a visualizar isso. Não, não dá... Imaginarmos um cenário de horror, tudo bem. Afinal, nós somos os responsáveis pelo que queremos ou não ver na nossa mente. Mas daí a vermos esse cenário começou a me parecer impensável... Talvez não passasse de um filme trash.

Essa idéia eu já tinha incorporado e me senti mais aliviada. Ele fez tudo o que poderia ser feito... e até conseguiu nos fazer ver uma branca cegueira. Mas ainda não aceitava, por exemplo, o primeiro cego e sua esposa como sendo orientais... e nem aquela cena do médico e da rapariga de óculos escuros ter-se passado no refeitório vazio.

Bom, dias depois resolvi assistir a todos os extras do DVD.
Aí veio aquela última cena. A ÚLTIMA cena. A mais importante, emocionante... José Saramago, quase sem voz, os olhos cheios de lágrimas, dizendo ao premiado diretor que (não com essas palavras, algo parecido) estava sentindo uma alegria comparável àquela, quando terminou de escrever o livro. Saramago, chorando, de alegria e orgulho?


Só uma frase a dizer: eu me rendo!