terça-feira, 28 de dezembro de 2010

RE-NATA

Neste fim de ano entendi que certas coisas são imutáveis. Carregar o peso de um nome é uma delas.

Talvez meus pais nem tenham se dado conta, mas ao escolher meu nome talvez estivessem traçando um destino.

Nesta virada de ano, fazendo um balanço do que passou, posso dizer que fui, literalmente Re-Nata. Renasci... renasci das dificuldades, das adversidades, da dor e das lágrimas. Renasci para as alegrias, para o amor, para a vida.

Então o que posso desejar é que sejamos como a fênix, porque é isso que um novo ano nos pede... Que renasçamos.

Independente de quão profundas forem as nossas adversidades, tudo passa. Se não passar, alivia... E sempre vai haver um sol pra brilhar, o sorriso de uma criança ou algo tão contagiante quanto, que nos faça sorrir.

Que 2011 seja recheado por sorrisos e abençoado por quem renasce a cada ano no dia de Natal.



segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Queria saber...

Há exatos nove anos escrevi este texto. É infantil, assumo... Mas nada melhor pra retomar meu blogue e postar nesta véspera de dia das crianças.

Desde que me entendo por criança, alguns questionamentos teimam em permanecer na minha mente. Sim, as dúvidas da criança permanecem na cabeça do adulto, só que a maioria deles não tem coragem de dizer e, muitas vezes, até foge dos questionamentos, temendo o sofrimento.


São dúvidas banais...(serão?...Ah...a dúvida de novo!). Mas o que será banal na cabeça de uma criança? Uma criança nem sabe o que quer dizer banal.

MINTO! São dúvidas essenciais, surgidas na mente pura e clara da criança que um dia fui e que, talvez, ainda reste em mim a essência. Questões vitais para transformar a vida do adulto, tirá-lo da prisão da seriedade, da racionalidade, vítima do sistema e da sociedade...tirá-lo da prisão da “adultice”.

Lembrei-me dessas dúvidas certo dia, ao assistir a um comercial de TV. Era a propaganda de um xarope para tosse e, ao final, mostravam dois frascos: um adulto e um infantil. No adulto, sério, havia o esboço de dois pulmões desenhados e, no infantil, o desenho de um moranguinho. Quanta discrepância! O xarope infantil tinha gosto de morango! E foi daí que ressuscitaram as dúvidas perdidas na vastidão de uma memória adulta, mais preocupada com, aí sim, banalidades de estudos, contas, trabalhos, festas, ódios, mentiras, amores (retiro esse último da lista de banalidades). Enfim, lá ia eu, novamente, perder-me dentro do meu próprio infinito.

Eis a questão: quem foi o louco que chegou a afirmar que adulto não gosta de morango? Por que o xarope de adulto tem gosto de remédio (argh!) e o de criança, de morango? Ah, se eu pego esses adultos “inventores de remédios”...Será que se perderam eles dentro das banalidades deles mesmos? É claro, lógico e evidente que o adulto precisa de xarope com gosto de morango!

A partir desta, outras e outras dúvidas infantis (ou nem tanto) foram desencadeando-se, como se eu tivesse regredido aos meus seis anos. Logo surgiu outra: por que os adultos insistem em chorar baixo, sofrer calados? Quem lhes disse que isso é bonito? Será que eles não se sentem tão mais aliviados ao fazer escândalos, bater o pé, tossir, gritar, fazer cara feia...Deixar todas as lágrimas caírem de uma só vez (sim, porque, nos olhos dos adultos, só cai uma lágrima por vez e cada pingo de lágrima mais parece uma gota de sangue, de tanto que o sofrimento preso corrói). Digo isso por experiência própria. Ô vontade de espernear!

Depois do choro, veio o riso. Do riso, a gargalhada. Quero saber quem foi o sanguinário ditador que impôs que a gargalhada de um adulto fosse uma vergonha. Por que, meu Deus, após um adulto gargalhar alta e prazerosamente, logo ele é taxado de “escandaloso”, “insensato”, “insano”, se a risada desdobrada da criança é tão gostosa que faz esboçar-se um sorriso em cada rosto ao seu redor? Mas por que só um sorriso? Por que também não se desdobram gargalhadas adultas, Deus?

Falando nisso, outra dúvida surgiu: por que, para o adulto, o Senhor é Deus e para a criança, é Papai-do-Céu? Ele, por acaso, deixa de ser Pai quando as crianças crescem? Estou certa, aliás, absolutamente certa, que não. Portanto, deste prazer infantil, nunca abri mão: Deus, nas minhas palavras, rezas, orações e pensamentos, sempre foi chamado de Pai. Não abro mão desse direito, viu, Dr. Responsável pelas regras adultas?!

Para cada dúvida seguinte, mais dez, cem, mil questionamentos surgem. Por que os adultos não podem cantar cantigas de roda? Por que ninguém lhes canta cantigas de ninar? Por que eles não podem enfeitar seus escritórios com bichinhos de pelúcia e carrinhos? Ficaria tão mais aconchegante... Por que eles teimam em ser tão racionais, e duros, e frios, se isso os faz sofrer tanto? Por que eles não dizem logo o que sentem na hora que têm vontade? Será que já esqueceram de ser crianças? Será que cresceram demais? Tenho fé que não. Só devem estar meio perdidos dentro das próprias memórias.

Mas de todas essas e muitas outras havia, ainda, a dúvida maior de todas. E a mais marcante também. Aquela que nem na memória conseguiu se perder:

Por que será que os olhos dos adultos não carregam mais o mesmo brilho ofuscante, intenso, puro do olhar transparente da criança? Quem garantiu aos adultos que é perigoso ser transparente? Eu, quando criança, não conseguia encontrar a resposta para essa pergunta, mas hoje ela me parece tão clara e límpida quanto o meu próprio olhar de 15 anos atrás.

Os olhos adultos são tão opacos pelo simples fato de eles não tomarem remédio com sabor de morango; não espernearem ao chorar; não gargalharem; ah...pelo fato de terem vergonha cair e se ralar; por terem um Deus lá em cima e não um Papai para todas as horas, seja ele do Céu ou Noel; por não saberem dizer “eu te amo” de forma tão inocente e sem esperar nada em troca e nem ao menos saberem deixar o sentimento transparecer; também pelo fato de os adultos não brincarem de roda, de carrinho, de boneca, de casinha,...; por eles serem tão racionais. (Mas que droga de racionalismo! Deveríamos ser seres EMOCIONAIS!)... e por outras.

Por isso, ao final desta, resolvi reensinar – e reaprender – algumas palavras que há muito andam perdidas meio às banalidades. Ora, se elas foram inventadas, temos a obrigação de utilizá-las: Amor, Desculpa, Colo, Abraço, Choro,..., Saudade (essa só nós temos o privilégio de pronunciar...e quanta dor ela nos traz!).

Será que essa crônica soou como reivindicação? Não era esse o propósito, mas, já que foi assim, terminemos:

Queremos cantar, brincar, amar, berrar, cair, gargalhar, apontar (com o dedo indicador e não com os olhos...Soa falso). Queremos ter Papai e Mamãe do Céu, queremos sorvete, pipoca, coca, museu (!), desenhos animados, tudo azul para os meninos e tudo cor-de-rosa para as meninas. Queremos poder dizer que, além do único animal racional, o homem é o único ser emocional!

Se não soou como uma reivindicação...Era só isso...A curiosidade de uma adulta ainda meio, muito criança...

Eu só queria, mesmo, saber...


Renata Freitas
2001

sábado, 29 de maio de 2010

Cansei!

Obs: Antes de ler, um aviso aos homens: este é um redigido sob os sintomas de uma TPM. . Vocês JAMAIS poderão usá-los contra mim.


Cansei! Nós, mulheres, viemos lutando ao longo dos anos. Passamos pela conquista dos votos, a queima dos sutiãs, os direitos iguais... Nós nos afirmamos no mercado de trabalho. Somos livres, independentes, reconhecidas, lindas, louras. Chegamos à política (não que eu nos compare a qualquer uma delas, mas somos do mesmo gênero, fazer o quê?).Compramos sapatos Christian Louboutin e bolsas Louis Vuitton com nosso dinheirinho suado, mas nosso. E o que mais podemos querer da vida?


Certo dia um amigo meu me soltou essa: “querida, você é descolada, bonita, inteligente, bem-sucedida profissionalmente, tem vários livros, tem peitos, quer mais o quê da vida?”. Ah... quero ser mulherzinha, ué?!


Sim.. mulheres sempre serão mulheres. Tudo bem, falo por mim. Bom, já viram que sou várias em uma , não? Então quero ter meus ataques de mulher de Almoldovar ou de Woody Allen que seja... Quero gritar, berrar, ligar 30 vezes bêbada do meu celular e depois... e depois CHORAR no colo de alguém e não sozinha no chuveiro. Sim, nós mulheres, choramos no chuveiro. E no travesseiro também, antes de dormir.


Não quero ser rotulada mulher forte, independente e decidida sempre. Me deixa ficar em dúvida uma vez? Me deixa depender de um homem nem que seja pra abrir uma lata de palmito? (aquele adesivinho de vácuo acabou com nossas desculpas em dias de carência). Gente... Mais um segredinho: A-D-O-R-A-M-O-S ensaiar caras e bocas em frente ao espelho. Tudo bem, tudo bem, novamente falo por mim.

Mas eu duvido que tantas vezes nós, mulheres (agora falo por nós) não desejemos gritar: “SOU MULHER, POXAAAA. OLHA PRA MIM... Sou frágil, tenho mãos delicadas, fico menstruada, sofro de TPM, tenho cólicas, vou carregar (ou já carreguei) uma vida dentro de mim. Faço o sacrifício de permenecer hoooras a fio em cima de um salto 15! Me dá um desconto? Não gosto de ser chamada de ‘meu irmão’, de ‘doido’, por mais que eu pareça um”. Também temos vontade de gritar mais ainda: “ouve meus gritos e fica calado. Só vou me calar quando você disser que eu tenho razão”. E logo depois derramar mil lágrimas e dizer: “só saio daqui se você me levar no colo!”.

Eu, por exemplo, sou campeã de, em dias de depressão, comer caixas inteiras de “bis”, com uma caneca de coca com bastante gelo na mão e assistir “Breakfast at Tiffany’s”, cantando “Moon River” e chorando quando a Holly abandona o gato. Sim, me entreguei, e daí? Sou a única no mundo?


Mas não, afinal, somos fortes, firmes, decididas e, acima de tudo, orgulhosas... Mas ninguém sabe o duro que a gente deu pra ser assim... E que a gente ainda dá.


Somos tudo isso, sim. Mas todas nós temos nossos momentos de mulherzinha. Afinal, é isso que somos. Por favor, respeitem isso, fiquem calados e se curvem diante de nós... Nós merecemos!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Com a inspiração de Chico

Vim aqui lhe falar sobre a mulher do Aníbal. Ela era a moça do sonho, a mais bonita, mas um belo dia ela desatinou e o velho Francisco comentou:

- Olha, Maria, essa moça tá diferente!

- Deixe a menina, ela está na flor da Idade.

- Ora... Quem te viu, quem te vê, Bárbara.

Bárbara, esse era o seu nome.

Tudo começou quando, outra noite, vestida na camisola do dia, ela ouvia os cantores do rádio entoando qualquer canção. Aníbal ainda não chegara. Estava, de certo, com o copo vazio, em alguma conversa de botequim. Bárbara o aguardava com a brisa do mar beijando seu rosto.

Era meia-noite, lua cheia.

- Onde é que você estava? Está caindo pelas tabelas!

- Ê, mulher faladeira. Fui ao funeral de um lavrador.

- De certo estavas na ilha de Lia ou no barco de Rosa!

Aníbal se aproximou, tocando em seus braços.

Bábara avisou:

- Tira as mãos de mim!!!!! Foi a Gota D’água. Quando eu for, eu vou sem pena.

- Cala a boca, Bárbara!

- Você não sabe amar!, retrucou.

Cansada deste amor barato, Bárbara resolveu prestar uma última homenagem ao malandro. Sem dizer uma palavra, partiu como uma pássara.
 Com um choro bandido engasgado, o marido caiu em desalento.

Bárbara foi atrás de Pedro Pedreiro, sem compromisso, sem fantasia.
 Apresentou-se como Ana de Amstersdã. No meio da Construção, seguiram amando sobre os jornais.

No dia seguinte, pegou cem mil reis, dinheiro em penca, e voltou pra casa.

Acordou o marido.

- Vai trabalhar, vagabundo!

Ele ainda murmurava:

- Mulher, vou dizer quanto eu te amo.

Sentimental, ela chorou...

Ele sussurrou...

- Já passou! Fica!

Ela anuiu...
...e eles fizeram samba e amor até mais tarde.

* Texto escrito com títulos de canções de Chico Buarque de Holanda

terça-feira, 18 de maio de 2010

Des

Existe uma expressão hipercomum por aqui que diz: “Ai, se não fosse pelo ‘quase’”. Eu discordo dessa teoria... pra mim, é mais legítimo falar: "Ai, se não fosse pelo ‘des’”. Caramba... que prefixozinho sem-vergonha esse. Ele transforma as melhores coisas nas piores possíveis, já repararam?

Este cruel prefixo é capaz de transformar pessoas cheias de boas graças em pessoas desgraçadas. Só ele pode transformar algo com um gosto único em algo completamente desgostoso. Também é por culpa dele que pessoas abrigadas viram desabrigadas e aquelas que tinham a cabecinha no seu devido lugar, basta colocar estas benditas três letrinhas na frente que viram pessoas desajustadas. É justo? Não...

Tudo bem, não serei nem tão radical e nem tão desleal com o “des”. Ele também nos deu ótimos, mas poucos, presentes. Olha só: desafiar (este é impagável!), desbravar, descobrir, desmentir, desanuviar (esse eu uso demais!).

Em compensação é mais-que-comum ele trazer um carga negativa para as palavras. Olha só a contrapartida: transforma a motivação em uma total desmotivação, os tão sonhados encontros em desencontros, ele tira até o gosto das coisas: o café, com ele, fica descafeinado, o bolo desanda, tudo fica desenxabido.

Por exemplo, o que seria do “Minhas Venturas”, se virasse “Minhas Desventuras”? Credo! “Pé-de-pato mangalô três vezes”. Se o nosso único alento virasse um desalento e se as pessoas empolgadas não passassem de seres desmotivados, desanimados e desencorajados, cheios de desamor, desânimo e desconfiança? O mundo viveria em completa desarmonia.
Mas sabe o que mais me dói, entre todas as dores que o “des” é capaz de causar?

É tornar aquele momento, há tanto esperado, em um momento de total desespero.

É isso que faz dele “quase” desprezível.

Ah... Se não fosse pelo “quase”...

Ah... Se não fosse pelo “des”.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Personagens de mim mesma

Caraca! Só ontem me dei conta do quanto abandonei esse blogue. E o pior: do quanto abandonei a minha maior válvula de escape: a escrita. Escrever sobre fusões, aquisições, projetos, notícias corporativas e etc. é bem diferente de falar sobre opiniões e sentimentos. Mas dia desses algo me fez redespertar pra esse espaço que, mais uma vez acredito, volta a ser só meu e de quem se interessar por devaneios de quem ainda não conhece muito da vida.

Bem-vindos novamente, meus fiéis 5 leitores.
Bom, tantos meses longe e, por incrível que pareça, sem muito a escrever. Minha preocupação é ter tapado os meus olhos pra poesia (ou pra crônica) da vida. Será? Teria-me tornado desinteressante? Torço que não. Talvez um pouco cansada das coisas, das pessoas, do trabalho... Mas eis que resolvo voltar e encontrar um novo assunto: livros, filmes, músicas. Gente... Tô há exatos seis meses sem ler... Talvez seja uma pós-graduação tola que tenha me tomado o tempo da leitura. Desculpas à parte, me dou conta que talvez isso tenha me tornado uma pessoa desinteressante: a falta de fantasias na minha vida.

Quanto aos filmes, não posso reclamar. Tive boas surpresas nesse hiato da minha última postagem. Desde as fantasias mais pesadas, como “O Labirinto do Fauno”, quanto as mais doces e leves histórias, como “Julie e Julia”. E aí me dou conta que a minha vida deveria ser interessante como um livro, ou um filme... ou até como uma música. Contradizendo o que escrevi logo acima: mas quem disse que não é? Há (demasiados) dias que sou um uma personagem de Almodóvar, seguidos por dias que sou a Celine, de “Antes do Amanhecer”, outros (poucos) que sou Pollyana e em outros (escassíssimos) chego a ser quase a Esther (do filme “A órfã” e não a personagem bíblica). Tem dias que sou a Holly, do Truman, outros que sou a brasileiríssima Emília (nossa! E como a sou) e em tantos outros sou a Julieta Capuleto. Todos os dias sou as mulheres de Chico, a Helena, a Rosa, a Rita, a Bárbara, a Beatriz e, por fim, a Renata (Maria ou não).

E, nessa viagem toda, chego à conclusão que essas e outras milhões de personagens que habitam dentro de mim vão tomando corpo, dia após dia, e chego até a ficar em dúvida se seria um desvio de personalidade, por serem tantas em uma só. Será? Não sei. Definitivamente não sou psicóloga pra saber, mas acho engraçado me ver em tantas situações diferentes, vivendo tantas emoções diferentes, reagindo de maneiras diferentes: por vezes trágicas, por vezes cômicas, por vezes bizarras, corajosas e tantas e tantas e todas as vezes, humanas.

Peço desculpas a mim mesma por não ter citado as outras zilhões personagens que habitam dentro de mim. Não esqueci delas que, mais cedo ou mais tarde, surgirão em uma situação qualquer, em um dia qualquer.

O que sei é que EU, como afirmei logo no primeiro parágrafo, ainda não conheço muito da vida. Mas essa sim, de tanto usufruí-la, é a que mais conhece de mim.