quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Coisas que definitvamente só acontecem comigo.
Ai, tava dando um descanso pra isso aqui, mas agora vou retomar “dicumforça”.
Pra usar uma expressão bem paraense pra retratar uma situação típica do Pará: É-G-U-A!!!!! Quando a gente acha que o dia vai ser calmo, que nada vai acontecer, não é que de repente acontecem as coisas mais inusitadas, como um astro do rock pintar na empresa ou, de repente, os militantes sem-terra fecharem a estrada?!
Bom, ontem foi a vez justamente dos sem-terra.
Não estou aqui pra tomar partido de nada, já que a intenção desse blog só resvala na política, bem de levinho, mas putz...
Logo cedo tive uma reunião ultra-mega-hiperimportante. Logo após a reunião, marquei uma outra pra passar o superbriefing à agência, já que seria uma campanha interna. Teria que estar na agência às 13h30, por isso, saí de Barcarena às 12h em ponto.
Não costumo ler no carro, morro de medo de ter um descolamento de retina, ainda mais nessas estradas que são um “Tapete”, que ligam Barcarena a Belém. Terremoto pra quê, pra quem tem que andar diariamente por essas estradas? Mas não estava conseguindo largar a Anne Frank. Entrei no carro ansiosa por ler. Por mais que eu só conseguisse ler uma frase a cada 15 minutos, por causa do balanço nada gostoso, fui lendo até o enjoo me vencer.
Quando, finalmente, ele venceu o 12º round, resolvi dar “aquela” cochilada. Eis que nem bem fechei os olhos, o motorista está cutucando meu braço: “Senhora, os sem-terra fecharam a estrada pra Belém”. Eu comecei a sair do estado alfa, abri os olhos inflamados com calma, vi a fila de uns 30 caminhões e, claro, tive a feliz ideia de pelo menos ligar pra agência pra dizer que os sem-terra estavam impedindo a minha passagem dali pra um mundo melhor, mas adivinha? É claro que àquela altura da estrada não pegava nem sinal fumaça, quanto mais de celular. Eles teriam que se conformar com o meu atraso.
Mas aí o motorista teve uma luz: “olha, tem outro carro meu lá do outro lado da estrada. Só andar um pouquinho e você consegue pegar e continuar a viagem”. Eu: “Andar quanto?”. Ele: “Ah! Uns 800 metros”.
Abri a janela do carro, senti aquele bafo de 100 graus Celsius à sombra e achei melhor declinar da ideia. Respondi: “Vamo esperar mais uns 15 minutos, né?! Se eles não liberarem, a gente tenta”.
Passou meia hora e nada. Aceitei. Vamos lá!
Tirei meu blazer, porque definitivamente os sem –terra não gostam de “pessoas-de-empresas-que-usam-blazer” e comecei minha caminhada rumo ao próximo carro. Sorte é que o motorista era simpático e carregou minha mochila que só podia ter uma bigorna dentro.
Fiquei moreníssima... Vocês não têm noção do que é andar pela estrada com 100 graus à sombra... E lá se foram os 800 metros. Aí cheguei até a barreira dos sem-terra. Uns 50, 60, 80 homens, sei lá. E árvores, então... nem sei quantas morreram pra eles fazerem a barricada. Um fogaréu só... Respirei fundo e fui.
Quando estou prestes a queimar meus sapatinhos, aparece um policial dizendo que não é mais permitido passar, porque os sem-terra iam liberar a pista.
Aaaaai... mais 800 metros de volta. Mais sol escaldante... 1,6 km... já posso correr maratonas inteiras! E, adivinha? Os sem-terra liberaram a pista? Claro que não. Minha viagem, que seria de uma hora e meia até Belém já tinha uma hora e meia só no carro.
Mas tinha uma grande sorte: Anne frank estava na minha bolsa... Consegui avançar mais de 100 páginas do seu diário e, ah, meu Deus! Como estou íntima dela... Como ela conseguia ser tão adorável.. E que menininha inteligente e madura, tão jovem que era... Consegui me abster completamente daquele mundo dos sem-terra a minha volta e entrar no dela, bem pior e mais cruel. Nem me dei ao direito de ficar irritada com todo aquele cenário típico de “matéria-do-Pará-no-jornal-Nacional”.
Ainda não cheguei ao final do diário, mas tem uma parte que ela fala assim: “Se Deus me deixar viver, vou realizar mais do que mamãe jamais realizou. Vou fazer com que minha voz seja ouvida, vou para o mundo, trabalharei pela humanidade! Agora sei que primeiro é preciso coragem e felicidade”.
Bom, apesar de ela não ter vivido tanto o quanto desejava, como todos sabem, a voz dela continua, até hoje, ecoando. Acho que Anne alcançou o objetivo dela.
Mas já pulei de um post para o outro. E esse, da Anne, ainda faltam pelo menos 73 páginas pra eu construir.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Ave, ave ó Senhora da Berlinda!

Como bem canta o Padre Fábio de Melo, “é círio outra vez”. Domingo que vem lá vão novamente as ruas de Belém se encher de graça, de gente, de alegrias, de esperança. Meu coraçãozinho, então, nem se fala. Tá transbordando fé, otimismo e toda a esperança do mundo.
Há alguns anos que tenho tido momentos difíceis nessa época do Círio. Este ano não está sendo diferente. Talvez seja uma forma de aumentar a fé.
Esse blog normalmente fala de coisas felizes e não de momentos difíceis, mas dessa vez tem que ser assim. Aliás, momentos realmente difíceis na vida são só aqueles em que somos impotentes diante das situações e eu sempre considerei assim... E estou passando por um desses. Um turbilhão. Um turbilhão que só Nossa Senhora de Nazaré pode confortar.
Então, bem diferente do post do ano passado, espero mais uma vez passar por mais este momento cheia de fé pra voltar a ver o Círio com as mesmas cores...
Pra quem visita esse blog e não é de Belém, vou colocar o Hino do Círio, uma música chamada “Vós sois o Lírio Mimoso”, pra que vocês possam sentir um pouco da atmosfera da cidade às vésperas dessa festividade.
Belém já está exalando cheiro de Maniçoba e pato no Tucupi de novo!

Vós sois o lírio mimoso / do mais suave perfume
Que ao lado do santo esposo / a castidade resume.

Refrão
Ó Virgem Mãe amorosa
Fonte de amor e de fé
Dai-nos a benção bondosa
Senhora de Nazaré
Dai-nos a benção bondosa
Senhora de Nazaré

De vossos olhos o pranto / é como a gota de orvalho
Que dá beleza e encanto / à flor pendente do galho.

Se em vossos lábios divinos / um doce riso desponta
Nos esplendores dos hinos / noss'alma ao céu se remonta.

Vós sois a flor da inocência / que nossa vida embalsama
Com suavíssima essência / que sobre nós se derrama.

Quando na vida sofremos / a mais atroz amargura
De Vossas mãos recebemos / a confortável doçura.

Vós sois a ridente aurora / de divinais esplendores
Que a luz da fé avigora / nas almas dos pecadores.

Quando em suspiros estais / a vida sentimos morta
Nessas angústias finais / o vosso amor nos conforta.

Sede bendita, Senhora / farol de eterna bonança
Nos altos céus onde mora / a luz da nossa esperança.

E lá da celeste altura / no vosso trono de luz,
Dai-nos a paz e a ventura / do vosso amado Jesus!


Foto de minha autoria, no encontro com a imagem este ano.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

"E a vida o que é? Diga lá, meu irmão!"

Ah... Eu tava tão a fim de escrever, mas nem sabia o quê... Esse período que passei fora tanta coisa aconteceu... Fiz uma viagem maravilhosa em família, sofri uma perda irreparável, estou tendo que aprender a conviver com os aliens que invadiram o meu estômago, os preparativos de uma festa de 15 anos, o último capítulo da novela. Um prato cheio pra quem quer escrever. Mas é que às vezes sinto que o mundo real tem ocupado bem mais meu tempo do que eu queria... e isso é um erro que eu tentarei, com todas as minhas forças, corrigir.
É engraçado como a nossa vida é uma avalanche de acontecimentos e sentimentos, né?! Essa perda irreparável sofrida me deixou marcas... Um grande amigo, que tinha 23 anos, morreu afogado. Meu avô também morreu assim... E só Deus sabe o quanto é difícil a gente aceitar isso acontecer com um menino, o meu shéwry, que tinha toda a vida pela frente. Mas aí, depois de pelo menos um ano sem ir a uma missa, tive a tal missa desses 15 anos que falei acima (não, definitivamente não sou eu que estou fazendo 15 anos, é minha prima), eu comecei a entender um pouco mais.
Confesso que em toda a missa, na hora da Homilia, costumo pensar “Lá vai aquela enrolação toda”... A parte mais chata e mais demorada das missas. Só que ontem foi diferente. Até tentei ficar dispersa, como já é de praxe, mas não consegui. A homilia era sobre Maria das Dores. Palavras sábias de um frei que, mesmo quem não é católico, quem é agnóstico ou até ateu, deveria ouvir e aprender. Vou tentar falar aqui um pouco do que ouvi.
Ele simplesmente resumiu o discurso dele em uma frase: “viver é sentir dor”... Pra viver bem, temos que nos conformar com isso. E quem disse que viver é fácil? Não é uma, não são duas... Durante toda a nossa vida são milhares as dores que sentimos. A dor é difícil, mas é sábia. Não quer sentir dor? Sinto muito, só morrendo. Mas mesmo assim, se alguém morre e deixa de sentir a dor, a gente sofre. E aí lá vem a dor de novo... Que coisa louca que é a mente e o coração humanos.
Bom, tem dor pra tudo quanto é gosto. A dor de ser não ser amada; a dor da saudade; a dor física, que pode ser desde uma unha encravada até uma grave doença; a dor de ver alguém querido indo embora pra sempre; a dor pela dor (sim, tem gente que é masoquista!) e tantos outros tipos que é impossível enumerá-los. A vida é, sim, sentir dor... e aprender com elas. Não tem quem não sofra. Mas a vida também é sorrir... É passar pela dor pensando que tudo é passageiro e que amanhã tem sol lá no céu, no mesmo lugar... e que, como dizia a Rita Lee, “enquanto estou viva, cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz”.
Bom, as palavras desse frei me fizeram sentir a vida mais leve e ficar mais conformada com as dores. O Léo, que foi embora deste mundo, não sente mais dor...e enquanto estava aqui, com certeza amenizava as dores das pessoas . Não tinha como não sorrir ao lado dele... Então é melhor fazer a coisa que ele fazia de melhor: rir. E deixa pra sentir a dor nos intervalos desses sorrisos.. Um dia a gente se encontra mesmo...
Por enquanto, temos que VIVER com todas as letras, porque a vida, mesmo sendo essa miscelânea de dores e sorrisos, é uma delícia!
P.S: E pra quem é católico, ainda pode contar com aquela ajudinha extra de Maria das Dores, né?!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Faz cara de preguiça e vai!

Foto minha, tirada um tempo desses. Ando assim, ultimamente: preguiçosa e sorridente.

segunda-feira, 22 de junho de 2009


... E mais de 20 anos de estudo se transformaram em papel de embrulhar pão...
Isto é Brasil. Um país de todos, menos dos jornalistas!

terça-feira, 2 de junho de 2009

Hoje tem festa no céu


Hoje o Pará se calou, perdeu sua voz.
E eu perdi o “tio Walter”.
Mas o céu ganhou o mais belo timbre pra acompanhar as harpas dos outros anjos.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Dia do Meio Ambiente


Quando a gente não tem o que escrever, fala sobre o quê? O vazio? O branco? O tempo?
Ah! O tempo!
Menino (a), que tempo louco é esse que tá fazendo, né? Chuva pra cá, enchente pra lá, desabrigados, mortos... Culpa de quem? Nossa, ora... Não que as pessoas que sofrem essas consequências horrorosas tenham 100% de culpa ou que o governo esteja isento dela, muito pelo contrário, porque toda a solução parte da educação, mas o bom senso nessas horas acaba esquecido atrás da porta.
Esse fim de semana, fui levar Rick Vommer (meu parceirinho branco peludo) pra tomar banho. Fomos a pés... Ele em quatro, eu em dois... Como sempre faço quando saio com ele, levei o jornalzinho pra recolher a sujeira. Penei, penei pra encontrar uma lixeira depois que recolhi... Mas quem procura acha... Uns 300 metros depois, já no auge da minha revolta, achei um cesto furado... Mais revoltante ainda... Só que perto do pet tinha uma, cheia até a boca, mas que salvou a pátria.
Nesse ínterim entre a lixeira furada e a cheia, três meninas andavam na minha frente. Deviam ter seus 11, 12 anos. Conversavam alto, cantavam e, de repente, uma sacou um chiclete do bolso do short jeans, comeu e pra onde foi o papel? Direto pro chão. Aqueles papéis laminados. O que mais revoltou foi que a menos de um metro dela, tava lá, a lixeirona... Até agora to arrependida de não ter corrido atrás dela e chamado a atenção: sabia que isso vai contribuir pra alagar tua casa? Mas a minha reação foi outra... peguei o papel do chão e joguei no lixo, contrariada.
Aí dá um desânimo, sabe?! Fiz a minha parte, mas em volta tinham tantos copos descartáveis, garrafinhas de água, guardanapos e tantas coisas mais...
Resolvi escrever isso porque semana que vem, dia 05, é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente. Tudo bem que não sou nenhum exemplo de consciência ambiental (e como sê-lo em uma cidade que não tem nem coleta seletiva?), mas acho que o mínimo a gente tem que fazer.
Acho que as dicas, a gente já tá casado de saber: fechar a torneira ao escovar os dentes; fechar o chuveiro ao se ensaboar e/ou passar xampu; não jogar óleo de cozinha no ralo da pia; consumir madeira certificada; lavar carro com balde, em vez de mangueira etc. etc. etc.
Então, feliz dia do meio ambiente pra todo mundo!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Sem sentido. Com sentidos.

Hoje na lancha, indo pro trabalho, eu comecei a pensar em como sou toda sentido. Não, eu não faço sentido... Sou toda 5 sentidos. Falo daquele sentido da definição do dicionário Houaiss que diz:

Faculdade de perceber uma modalidade específica de sensações (como o calor, as ondas sonoras, o sabor), que correspondem, grosso modo, a um órgão determinado, cuja estimulação dá início ao processo interno de recepção sensorial [São cinco os sentidos: tato, visão, audição, paladar e olfato.]

Gente, como eu sou 100% dessa tal recepção sensorial. Tudo o que acontece na minha vida tem um som, uma cor, um cheiro, um gosto, uma sensação...
Costumo dizer que sou o Jean-Baptiste, do Romance “O perfume”, sabe? Sinto cheiros a quilômetros de distância. As pessoas acham engraçado quando eu estou em determinado lugar e digo: “huuummm, bateu o cheiro do Rio de Janeiro agora”. O Rio tem, pra mim, dois cheiros característicos: aquele cheiro da “praia do Rio” (esse, só indo lá pra saber), misturado com cheiro de Sundown® e o outro é o cheiro de gás. O Rio tem um cheiro delicioso de aquecedor a gás. É super típico! Pelo menos na minha cabeça... E o cheiro do Círio, então? Esse é fácil... Basta molhar um pouco o asfalto bem quente... Eis o cheiro do Círio de Belém!
Vancouver. Pra mim, Vancouver tem um cheiro inconfundível. Não só a cidade, mas aquela época maravilhosa da minha vida que passei por lá... Tudo tem cheiro de maçã verde... Acho que porque o xampu que eu usava quando estava lá era de maça verde. Aí ficou...
A Europa, como todos podem conhecer e/ou imaginar, tem vários cheiros. Desde o cheiro amadeirado de um hidratante que davam de brinde num hotel, até o adocicado de um sabonete líquido que eu passava nos cabelos.
A minha infância tem as cores dos azulejos da casa da minha vó... Minhas doenças de infância têm cheiro de copaíba com alho e naldecon gotas. As brincadeiras têm o som dos carros passando em frente à praça, quando estávamos no pátio. E o aroma de sabão Omo, que usávamos pra escorregar no quintal.
Sinto a minha infância como se ela fosse aquela mola mágica, sabe? Aquela colorida, que corria de um lado pro outro... E de geleinha e de folhas de árvores sendo tiradas do caule. E o cheiro das colônias Gelatti e Matinal.
Ah!!! Já ia esquecendo o gosto. A infância tem gosto de bananada no café e filé e arroz fritos na manteiga na hora do almoço. Na sobremesa, laranjinha de groselha e pirulito diplink.
O amor tem o som dos Los Hermanos, com a letra do Chico e o backing vocal do Michael Bublé.
A Itália tem gosto de sorvete de chocolate, a França tem gosto de vinho e Buenos Aires tem o ar fluorescente. Belém tem cheiro de tacacá (não sabem o que é? Venham e sintam)... A saudade tem o cheiro de Victoria’s Secret azul. Não sei porque... Passo esse perfume e sinto saudade... Saudade eu nem sei de que... Talvez de mim mesma... uma saudade saudável.
E a vida... Ah... a vida é esse mix de cheiros, gostos, sons, imagens... O caleidoscópio de sensações mais louco que alguém jamais ousou imaginar.
O Quintana já dizia que "a maior dor do vento é não ser colorido"

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Fé x Religião

Baseado em fatos reais

Era pra lá de setembro, outubro de 1992 e eu estava no alto dos meus 10 anos. Bem naquela época em que 99,99% das crianças católicas eram (antigamente) obrigadas a fazer aulas de quê? CATECISMO.


Pois bem... qual a criança, na flor da idade, queria estar às sextas-feiras, das 14h às 18h, trancafiada numa sala aprendendo coisas pra fazer 1ª Eucaristia? A Primeira Comunhão eu queria fazer, achava ótimo se confessar, comungar, era o máximo... Mas nunca esperei ter que assistir às aulas de catecismo antes. Isso não fazia sentido nenhum pra mim. Principalmente às sextas feiras, quando já tinha me livrado de uma semana de escola, além do jazz, balé, inglês, aulas de lambada, natação, sapateado etc. (Sim! Eu fazia todas essas).

Como a minha mãe tinha bom senso, de tempos em tempos ela me deixava escapar das aulas de catecismo ministradas no salão paroquial de uma igreja tradicionalííííííííssíííííma de Belém.

E a história toda começa aí...

Um belo dia, que eu já ia escapar de novo, cheguei no colégio dizendo assim pra um amigo meu (que também era da minha sala no catecismo e meu amigo até hoje): “eba! Hoje vou faltar de novo na aula de catecismo”. Aí ele me vem com essa bomba: “Renata, hoje tem prova escrita”. Hã? Como assim?

Bom, cheguei em casa e não podia fazer nada sem dar “aquela” descansada depois do almoço (paraense devia ser obrigado a fazer a sesta), e deixei os livros de lado. Acordei, tomei banho, me vesti e disse: estou pronta... Vamos à prova! É quando vem a pergunta óbvia da minha mãe. “Você estudou?”. Hum... Uma lida rápida no elevador resolveria. Afinal, são 13 andares e o elevador nem é assim tããão rápido. No carro não dá, eu fico com enjoo.

Cheguei na sala e todos já estavam concentrados, com suas provas em mãos. Peguei a minha, respirei fundo e pensei: vai que é tua, Renata!

Primeira questão: o que é vocação? Ué...
R: “Vocação é aquilo que a gente já nasce sabendo fazer alguma coisa”. O que mais seria?

Respondida a primeira questão, parti pras outras. Algumas eu não lembro bem, mas outras me marcaram tanto... não sei bem o porquê.

Tinha uma que era assim:
Qual foi o monte que Moisés subiu e tal? Essa eu tinha lido no elevador! Sabia a resposta! Começava com “S” e terminava com “I”... hummmm... pensei, pensei. JÁ SEI!

Monte SAMURAI.

E taquei isso na prova!

Muito bem, continuemos... Minha prova tava só sucesso...
Aí veio uma outra questão: “Escreva quem falou as frases abaixo”.
Essa eu sabia... A primeira frase tinha sido Jesus, a segunda tinha sido Maria, a terceira era do Pôncio Pilatos e a quarta...
...
Ué, mas quem disse “Jesus, o vinho acabou”? Jesus não era... Maria não podia ser, porque ela já tinha falado a frase número 2. Aí eu parei pra pensar. Contextualizei... Fiz filminho... A resposta não vinha!
...
Aí tudo ficou tão óbvio!!! Claaaaro!!! Ué, quando o vinho acaba, quem pode nos informar isso? Aháááá!!!!
Resposta: Quem falou a célebre frase “Jesus, o vinho acabou” foi o.... GARÇOM! É claro! Como eu pude ficar em dúvida?! Pronto! Terminei a prova.

Minha mãe já estava lá na porta esperando e eu comecei a tirar as dúvidas com ela...
-Mãe, qual o nome do Monte do Moisés?
- Sinai
- Hummm... Escrevi Samurai

Ela ficou perplexa! Aí depois veio a próxima

- Mãe, quem disse a frase tal?
- Maria, minha filha
- Ai, mãe, deixa de ser boba... Maria falou a frase 2. Essa era a frase 4.
- Sim, mas também foi ela. Por que, Renata, o que você escreveu?
- Ora, o garçom...

Acho que ela só não desmaiou porque estava dirigindo... Ficou calada por um bom tempo. Devia estar pensando: “Criei um monstro”.

Não contente com tudo o que aconteceu, ela foi doar roupas no salão paroquial e a Tia Isabel, minha professora, que obviamente não sabia que ela era minha mãe, soltou:

- Ora, onde esse mundo vai parar? Hoje ninguém mais conhece a Bíblia. Você acredita que uma aluna assim, assim escreveu Monte Samurai e o Garçom?

E a mamãe:
- Meu Deus, que absurdo, minha filha jamais faria uma coisa dessas!

Resultado da prova: 3,0. Mas eu FIZ Primeira Comunhão! Acho que a Tia Isabel pensou que eu tivesse algum problema e me liberou!

Será que esse é um bom post pras vésperas de Páscoa?

Bom, as crianças, Deus perdoa.
E eu posso até não ser boa em religião, mas minha fé... Essa continua sendo inabalável!

segunda-feira, 23 de março de 2009

A resposta

Pois é... Então eu escrevi este “livro”, já certa de que não teria retorno. Era quase impossível eu ser ainda mais surpreendida por esse cara... Mas eu fui! No mesmo dia. Poucas horas depois, ele me respondeu. Chorei... Sorri... Não descrevo mais nada, impossível.
E, não só isso. No ano seguinte, em 2007, ele voltou a Belém. Ficamos batendo um bom papo por vários minutos (esperei terminar a sessão de autógrafos). Falei de como estava sentindo o fim do “nomínimo”, um portal de jornalistas que eu assinava e que publicava as crônicas do Zu, sentia principalmente porque era meu único meio de contato com ele. Mas ele me passou o e-mail pessoal dele, assim não perderíamos o contato. E ele também me falou da releitura do 1968. E é esse livro que começo a (re)ler hoje – o antigo... Para então ler, pela primeira vez, a sua releitura “O que fizemos de nós”. Já, de antemão, recomendo.
Recomendo também os outros: Minhas histórias dos Outros, Cidade Partida, Chico Mendes: crime e castigo, Inveja – Mal secreto (é este da foto), ... E todos os que trazem um pouco dele. É só pesquisar.
Beijos a todos e obrigada pela paciência de ter lido, step by step, a “Minha história do Zuenir”.
Lá vai!


No mais recente encontro, em 2007, no Teatro Estação Gasômetro, em Belém.


Renata querida: Você quase me mata de emoção, garota! O seu texto funcionou pra mim como uma daquelas provas de esforço para ver se o coração está bom. Ainda não sei se passei no teste. Quando saímos do teatro, fomos jantar (se eu soubesse teria levado você comigo) e na mesa contei que tinha conhecido rapidamente uma menina com um humor muito fino. "Imagina que ela pediu um autógrafo e lamentou não ter trazido meus outros livros. E completou: o cidade partida, o inveja e o Ensaio sobre a cegueira'. Todo mundo morreu de rir e concordou que você tem um fino e original senso de humor. Agora, voltando à sua carta. Ela me deixou ao mesmo tempo emocionado e sobrecarregado de responsabilidade. Mesmo sabendo que, por generosidade, você estava me mitificando e que eu devia dar um desconto, não pude evitar uma dose excessiva de vaidade. Meu ego, oh! Fiquei todo bobo. Mas em seguida me dei conta de que jamais poderia corresponder à imagem que você faz de mim, e isso me deixa preocupado. Tive vontade de dizer, "menos, Renata". Penso no dia em que, ao descobrir que sou de carne e osso, cheio de falhas adquiridas e defeitos de fabricação, você vai se decepcionar. Como você me colocou lá em cima, a queda vai ser muito pior. E aí eu vou me sentir muito triste. Como você sempre foi "avessa à idolatria", a esperança é de que o ataque de agora seja conseqüência de um vírus passageiro a ser atacado. Mas enquanto isso, enquanto não se cura, vou supor que sou o que você sonha que eu seja e me esforçarei para sê-lo integralmente. Se chegar à metade, já me darei por satisfeito. Ficaria conversando com você por muito mais tempo, se não tivesse interrompido um trabalho com prazo de entrega para dar uma olhada rápida no meu correio (sou eu mesmo que abro), e me deparar com aquele "Ao mestre Zu, com carinho". Por mera curiosidade abri, mas sem a intenção e sem o tempo de ler, muito menos de responder. O resultado é que aqui estou, há quanto tempo?, conversando com você. Isso dá a medida de como a sua mensagem me mobilizou. Agora, pórém, morrendo de pena, vou ter que parar. Me sentirei muito feliz se você continuar sendo minha leitora, minha admiradora e sobretudo minha amiga de infância. Com um beijo muito, mas muito carinhoso mesmo, do Zu.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Ao Mestre (Zu) com carinho - Parte III

Ele falou, eu ouvi com toda a atenção do mundo, ele fazia piadinhas e eu ria de forma desdobrada, como criança, ele falava do jornalismo, eu aprendia. Até que ele soltou essa: “A crônica é a nossa forma de responder à agressividade, à objetividade e à frieza do jornalismo moderno. A crônica é a forma de colocar sentimento no jornalismo, porque não existe jornalismo sem sentimento”. Meu Deus! O gosto pelas crônicas não era "o de menos", era um resquício do jornalismo com sentimento. Era o "de mais" no jornalismo. Isso me tornava ainda mais próxima dele.

Quando acabou o debate era chegada a hora. Será que eu o desmitifico de uma vez ou guardo meu gênio pra mim? Mas quando ele veio descendo do palco, não pude me conter, era talvez a única oportunidade de chegar perto. Minhas mãos começaram a suar frio, as pernas ficaram bambas e eu chamei, com uma voz que deve ter saído trêmula e esganiçada: “Zuenir!”. Assim, com a maior intimidade mesmo. Ele veio em minha direção. “Desculpa, não queria te incomodar, mas é que me acho tão íntima de ti, converso tanto contigo todos os dias que achei que poderia (já sacando da bolsa o livro de capa amarela, a minha bíblia) te pedir um autógrafo”.

Ele, simpático e doce, tirou uma caneta do bolso e pegou o livro das minhas mãos, enquanto eu não parava de falar do lado dele. Acho que falei tanto que ele nem conseguiu assimilar as 300 palavras que saíam por centésimo de segundo da minha boca. Coisas de fã mesmo do tipo “estou feliz, emocionada, és meu ídolo (?)” e ele continuava abrindo o livro e posicionando-se para escrever. Até que eu, não podendo mais conter a minha pitada humorística, soltei essa: “na verdade, ia te alugar ainda mais, queria ter trazido todos os livros de sua autoria que tinha em casa pra autografares, mas achei que seria muita cara de pau trazer ainda o inveja, o cidade partida,..., o ensaio sobre a cegueira”. Ele, que já havia escrito meu nome, parou, me olhou sério e, quando viu a minha cara de cínica disse “muito engraçadinha você, hã”. E de presente eu ganhei a seguinte dedicatória: “Renata, você é uma gracinha, além de leitora fiel. Com um beijo carinhoso do Zuenir”.

Só que a última parte da dedicatória saiu das páginas do papel e este meu momento de êxtase se encerrou com um beijo terno na cabeça. Carinho de pai, de amigo, de pessoa. Fechei o livro e, novamente, com os olhos cheios de lágrimas, fui carregando meu troféu e transformando o meu gênio Zuenir, aquele que “não parece”, que “é”, ainda mais gênio, ainda mais amigo (agora pra mim a nossa amizade tinha virado via de mão dupla), ainda mais mito. O mito mais humano que já existiu nesse Planeta. E tudo isso com um orgulho imensurável do meu sentimento de idolatria.

Tenho certeza, agora plena, do que há algum tempo venho afirmando: “quando crescer, quero ser igual a você, meu Mestre Zu”!

Só acho que em mim não há espaço pra tanta grandiosidade e encanto.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Ao Mestre (Zu) com carinho - Parte II

Continuação do meu texto ao Zuenir.

Caso ele existisse de verdade (porque no mundo de hoje é quase inconcebível encontrarmos um ser humano, no sentido literal da palavra), pensei que já era tão amiga dele que nem havia necessidade de conhecê-lo pessoalmente, até porque isso era meio impossível, tendo em vista a nossa distância física e meu horário intenso de trabalho, dentre outros fatores. E também, não valeria a pena, de repente, me desencantar. Continuei a minha trajetória de vida e, apesar de trilhar um caminho do jornalismo tão diferente do dele, segui tentando me espelhar no seu caráter profissional e humano. Pelo menos o gosto pelas crônicas nós tínhamos em comum, mesmo que isso fosse o de menos.

Bom, ele, um carioca que vive viajando pelo mundo, jamais pararia em Belém do Pará só porque fazia mais ou menos um ano que eu o tinha descoberto como gênio. Porque ele como pessoa/escritor eu havia descoberto há tempos, em suas crônicas, que já eram minhas velhas conhecidas. Eis que, numa manhã de quarta-feira, a caminho do trabalho, lá está ele, na primeira página do caderno de cultura do jornal. Ele estava em Belém!

Só me restava a felicidade de poder encontrá-lo naquele mesmo dia, depois do horário de expediente. Uma felicidade que veio junto com um forte sentimento de apreensão. O medo da decepção era tão grande quanto a ansiedade de encontrá-lo.

Resolvi ir ao seu encontro, porque, afinal, se me decepcionasse, seria para mim até uma honra constatar que ídolos realmente não existem... Cheguei ao teatro para um debate (sobre crônicas!) no horário marcado. Quando abriram as portas, eu, que sou baixinha, fui me infiltrando entre as pessoas de estatura normal, até chegar lá na frente, onde usei a cara de pau que aprendi a vestir a partir do momento que escolhi esta profissão e me sentei bem ao lado da curadora do debate. Era uma garantia de que ele ia, pelo menos, me ver e, quem sabe, me reconhecer como sua velha amiga?

Quando ele entrou, baixei a cabeça para que ninguém percebesse, mas meus óculos até embaçaram. Achei-me uma dessas adolescentes, confesso. Ah! Mas era diferente! Eu estava me emocionando por aquele que era o meu ideal de vida e que agora estava lá, na minha frente, tão palpável, tão real. E o mais impressionante é que ele existia mesmo!

Na mesma hora tive vontade de gritar: “Oi, Zu... Sou eu, a Renata, tua amiga há tempos. Tô aqui na primeira fila pra te aplaudir. Vê se não me decepciona, hein, cara, porque eu esperei muito por este momento”. Mas preferi conter as meus impulsos e ouvir a (preciso confessar) chata da outra debatedora iniciar a palestra.

Quando ele abriu a boca, veio logo falando: “Bom, eu costumo dizer que não sou, pareço. Todos me confundem...” e contou um episódio acontecido em Parati, quando foi confundido com José Saramago. Ora, dias antes eu havia lido essa crônica, mas dei gargalhada ao o ouvir o principal personagem desta história relatando-a. Porém, quero deixar bem claro aqui que eu nunca aceitei essa crônica. Ora, será que ele ainda não se deu conta de que ele é o Zuenir? Ele não se parece, ele é a excelência do jornalismo brasileiro em pessoa.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Ao Mestre (Zu) com carinho - Parte I

Gente, por que todo mundo briga comigo? Parece até que não atualizo isso aqui diariamente... eheheh!
Galera, só agora me dei conta de como o texto que escrevi pro Zuenir é imenso. Resultado: vou ter que dividí-lo em três partes. Aí vai a primeira.

Ao mestre (Zu) com carinho

Devo confessar que sempre fui bastante avessa à idolatria, seja isso o que for, sentimento, doença, sintoma, enfim. Nunca tive nada contra o termo, pelo contrário, acho, inclusive, uma palavra bonita, verbo bonito, substantivo bonito, ela e todas as suas derivações. Mas a ação de idolatrar em si, essa aí eu nunca aceitei muito bem, não. Mas, preconceitos à parte, feliz de quem tem um ídolo e não se importa com isso. Só que eu sempre achei que isso era coisa de 100 entre 100 adolescentes que habitam no Brasil, na Inglaterra, na Unganda, no Cazaquistão ou em qualquer outro lugar do mundo, mas não de mim. Ora, já sou uma adulta, não tenho mais tempo de cultivar ídolos.

Até que me peguei idolatrando. Aí comecei a pensar, “acho que até é válido idolatrar alguém que acrescente alguma coisa à nossa essência” (olha a desculpa para me esquivar deste meu próprio preconceito), assim, na minha recente vivência, adotei um ídolo que, aliás, para não me sentir tão mal comigo mesma, prefiro referir-me como gênio.

É o gênio mais humano que já existiu na face da Terra. Um gênio grisalho, meio calvo, que tem a mesma profissão que eu, que fala pelos cotovelos e que tem um dos sorrisos mais ternos que pude presenciar durante a minha ainda breve trajetória. O gênio mais afetuoso que já tive a oportunidade de conhecer. Aquele, que tem um nome excêntrico (pra não dizer estranho mesmo. Pô, o nome dele começa com a letra Z!), o meu gênio, o meu mestre Zuenir Ventura. Aquele que não “é”, apenas “se parece”.

Opa! Mas eu disse que tive a oportunidade de conhecer, não é?! Então aí começa a “minha história dele”. É que nós viramos amigos íntimos sem ele sequer saber. Tudo começou com “Minhas histórias dos outros”, a sua mais recente obra (de arte), que relata a vida desse homem através de passagens marcantes da história do Brasil e de personagens que devem ser gênios de tantas outras pessoas, mas não meus. Admirados por mim, talvez, mas gênios... Mas esta crônica não está sendo escrita para relatar a genialidade de suas obras, mas a minha idolatria pelo gênio.

Fato é que foi neste livro que eu comecei a conhecer o caráter do Zuenir que, a cada página, ia se tornando meu melhor amigo. Sim, porque eu conversava com ele, eu ria com ele, eu chorava com ele... Só que até então, ele não passava de um amigo. Mas ao final do livro, tudo o que eu já vinha suspeitando, se confirmou: seu caráter de humanidade e hombridade estava mais do que explícito em um fato que ele classificou como seu “fracasso”, mas que pra mim foi seu ato mais bravo. Quanto terminei de ler o livro, eu pensei: “se for possível, quero ser igual a ele quando crescer”. E assim ele virou meu ídolo, meu exemplo, meu mestre e o gênio mais amigo e mais próximo que já existiu, pelo menos no meu mundo.

A partir da obra citada, fui lendo todos os seus outros livros, todas as suas outras crônicas e suas entrevistas. A forma de se auto-retratar e nos permitir conhecê-lo intimamente em cada uma de suas obras foi o que mais me encantou.

terça-feira, 17 de março de 2009

Por que "Minhas Venturas"?

Logo no primeiro post, disse que quem me conhecesse bem, saberia o porquê deste nome no blog. Não apenas porque a ventura (e aventura) resumem a minha vida – e a de todos nós, 5 leitores do blog ehehehe – mas porque um dos meus ídolos traz a Ventura no nome. Diria que o maior deles.
Em suma, queria explicar um pouco do que é ter um ídolo humano como o Zuenir Ventura, o maior jornalista do País, na minha humilde opinião.
Na ocasião em que encontrei com ele pela primeira vez, resolvi escrever um e-mail...

E aí começa a história.

Zuenir,

Espero, do fundo do coração, que sejas tu mesmo que abras estes e-mails. Assim como também espero que lembres de mim, algo quase impossível. Sou a engraçadinha de Belém do Pará, que disse que havia esquecido de levar o livro "Ensaio sobre a cegueira" para autografares.
Primeiro vou me apresentar. Meu nome é Renata, sou jornalista, formada pela Universidade Federal do Pará e apaixonada pela minha profissão.
Bom, talvez não pareça, mas sou extremamente tímida e, nos 2 minutos (ou menos) de contato contigo, não consegui falar tudo o que queria (na verdade, acho que nem em 2 anos conseguiria). Então, naquele mesmo dia, ao chegar em casa, resolvi passar uma boa parte do que queria te dizer para o papel. Relutei muito antes de enviar, por alguns motivos: o primeiro é que não gosto, mesmo, do que escrevo. Quase tudo fica restrito a mim, exceto as matérias, obviamente. Depois, achei tudo muito piegas, além de mal escrito. Aí pensei em dar uma "ajeitada" antes de te enviar, se resolvesse fazê-lo. Só que desisti, porque tive outros motivos mais fortes...
Primeiro é que precisava desse contato pra poder dividir a minha alegria, mesmo que de forma solitária. Depois, isto não é uma crítica literária, mas um desabafo. Além disso, acho que o texto da forma bruta sempre traz consigo um teor mais forte de sentimento.
Então, meio envergonhada, te envio essa humilde homenagem (arquivo em anexo). Por favor, não leva em consideração o caráter literário. Como te disse, está bem bruto.
Acho que minha maior felicidade era ter uma resposta tua, nem que seja um "Não tive tempo pra ler".
Bom, vou encerrar por aqui e, caso te interesses, conversaremos mais.
Só pra encerrar queria te dizer que te conhecer foi uma das maiores alegrias que tive na vida.
Obrigada, Mestre Zú, pela tua existência!

Um forte abraço,
Renata Freitas
Belém-Pará

No próximo post, coloco o texto que enviei pra ele.
Ah! Isso foi em 2006.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Aprendizados II




Nossa, como demorei... A preguiça tomou conta do meu corpo. Só hoje consegui expulsá-la. Então, continuando...

Acabando os eventos culturais em Belém, tudo estava pronto pra partirmos pra Oslo. Só que, antes, uma paradinha no Rio de Janeiro. Hora do tão temido avião: dor de barriga, tremelique, pânico. Até aterrissar. Aí depois veio o Cristo mais lindo e um hotel de frente pra... PRAIA. Tudo se acalmou. Me arrisco a dizer que 90% do grupo nunca tinha visto o mar. Gente, a quantidade de meninos provando aquela água... e a minha preocupação! Enfim, nada aconteceu... Gracias!

No dia seguinte, treino no Flu: Renato Gaúcho, Conca, Somália e tantas outras estrelas que eles só viam pela TV (quando a tinham) e agora estavam ali, frente a frente. Teve menino que só não saiu com o rosto autografado porque ia ficar feio. O almoço, ainda no clube, com direito a muito feijão. “Quero comer feijão. Aquela comida do hotel era muito fraca, não dava sustança”, disse um dos meninos que deve ter comido algo tipo salmão com alcaparras no hotel. Mas, realmente, a sustança que aquele feijão e aquela picanha me deram, deu pra agüentar os próximos 15 dias que estariam por vir.

À noite, o embarque para Oslo. Já familiarizados com o avião, o voo de 12 horas até Paris foi moleza. Algumas horas de espera no Charles De Gaulle, muito McDonald´s e a rodada mais cara de água que esses meninos já tomaram na vida. Obviamente, eles nem faziam ideia disso.

Algumas horas depois, chegamos a Oslo. Tudo tranquilo, até o menino que me falou do jacaré constatar que a mala dele tinha sido extraviada. Palavras dele: “mas não tem problema não. Só tinha uma bermuda e duas camisas. Eu tenho o uniforme pra ficar usando”. Eu fiquei pensando que se fosse a minha mala, eu estaria fazendo escândalo. Pra ele, bastava o que ele tinha na mochila. Aliás, eu preciso dizer que este foi um dos maiores corações que já tive contato em toda a minha vida. Ele tinha 15 anos, na época... Mas era tão adulto.

Fui lá tentar resolver o extravio da mala. Garantiram-me que em 24 horas, estaria de volta com ele. Estávamos mesmo na Noruega.
Quando saímos do aeroporto, às 22h30, ainda fazia sol! Não sei o que brilhava mais, se o sol ou os olhos deles.

Os dois dias seguintes foram de City Tour, sob responsabilidade da Norsk Hydro, acionista da Alunorte, que tomou conta da gente neste período. Além do city tour, tinha intercâmbio com jamaicanos, eslovacos, suíços etc. Naquela linguagem do sinal mesmo...
Enfim, chegou a Copa. E, para encurtar história, nossos meninos foram campeões pela final B do torneio mundial. Durante os vários dias de jogos, o feijão, que dava a sustança, transformou-se em pão, caviar, geleia, queijo, salame e patê de salmão. No final do campeonato teve churrasco. Adivinhem? Hambúrguer e pão! Eles já clamavam por feijão! Eu também.

O passeio mais especial foi guardado pro último dia em Oslo.Um passeio de barco, entre os fiordes noruegueses. Perguntei a um dos meninos mais humildes (ele mora em uma casa de pau-a-pique, em uma ilha onde nem carro entra, seus pais trabalham como catadores de açaí e artesãos): “E aí, tas gostando do passeio?” Ele disse: “Tô, mas to achando tudo muito parecido com a Ilha de Trambioca. Cheio de barcos (eram iates), árvores (eram coníferas) e casas (eram mansões). A única diferença é que as casas são um pouco mais bonitas e que as árvores não foram derrubadas”. É o jeito simples – e certo – de ver a vida. “E o que você tá gostando mais, então?” “Que tá chegando a hora de ir embora, rever meus pais e tomar açaí”.

Realmente, a hora da volta tinha chegado. Em vez de ficar no aeroporto, desta vez fomos fazer um city tour em Paris, com direito almoço no McDonald's da Champs Elysees (o lugar que eu mais conhecia em Paris), Torre, Notre Dame, Arco, Louvre. E bocas abertas. Ah... isso sim era diferente da Ilha de Trambioca! Agora ele gostou.

E chegou o momento de partir. Rio de Janeiro, aqui vamos nós novamente. Agora era vez do feijão e do churrasco, no Porcão. “Égua, tirei a barriga da miséria”, frase de um dos campeões.
Pão-de-açúcar, shopping.
Antes das compras, cada um deles recebeu uma certa quantia para poder aproveitar o shopping. Vi muitos deles, envergonhados, guardando o dinheiro e sem gastar nem um centavo. Pra alguns, perguntei: “Prefiro levar pros meus pais”, foi o que eles me disseram. Outros, não compraram nada pra eles mesmos. Um comprou ursinho pra irmã e guardou o restante. Outro, ainda mais humilde, foi escolher um presente pro pai. “Renata, o que ele vai preferir? Um cinto ou uma cueca?”. Acho que a cueca sempre é mais útil. Homem tem mania de usar sempre o mesmo cinto. E ele comprou, dizendo que o pai ia ficar muito feliz. Tendo guardado boa parte do dinheiro, sobraram 29,00 pra comprar um perfume. Ele encontrou um de 32,00. “Vale a pena mexer no dinheiro que eu havia guardado. O perfume é muito bom, é francês”.

Embarcamos de volta pra Belém, com muita festa. Famílias no aeroporto pra receber os campeões com a taça nas mãos. Aí tive uma surpresa: minha mala tinha sido extraviada.

E daí?

Agora eu já sabia como reagir a essas ínfimas situações.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Aprendizados

Trabalho na Alunorte desde 08 de setembro de 2003. Aliás, trabalho na Alunorte antes, desde 2002, quando ainda era terceirizada, repórter do jornal da empresa. Desde 2002 conheço um programa chamado “Bola pra Frente, Educação pra Gente”, desenvolvido em parceria com a Secretaria de Educação do Município de Barcarena.Conheço e divulgo: releases, cartazes, notas, peças, outdoors, minidoors, miniminidoors, papéis de bandeja etc.etc.etc. O programa, que alia o esporte à educação, consiste em selecionar 18 (bons) estudantes das 24 escolas públicas do município para disputar o maior torneio de futebol infanto-juvenil do mundo, a Norway Cup, realizada anualmente, em Oslo, no mês de julho. Não tem notas azuis? Não entra no time...

Enfim... a minha tática para “fisgar” jornalistas, público interno e afins era o caráter socioeducacional do programa e a mudança de realidade desses 18 meninos, que vivem em comunidades ribeirinhas e suam, doam mente e corpo para conhecer a Europa como bons estudantes e jogadores que são. Vocês podem imaginar o que são 7 anos falando sobre o mesmo assunto, procurando novas fórmulas, mas sempre o mesmo assunto... Ele acaba sendo parte da rotina (até porque o técnico do time - o voluntário 9e anjo...
esse homem não pode ser desse mundo!) Alberto Muller – trabalha na mesma sala que eu, ao meu lado) e, como tudo o que é rotina, passa despercebido pela gente e acaba deixando o encanto escondidinho, de lado. Por mais entrevistas que se faça, por mais meninos que se conheça, o dia-a-dia vai escondendo toda a magia que há por trás de tudo isso.

Não. Não vou fazer propaganda da empresa que trabalho. Quero falar da realidade que conheci de perto.

Acontece que, em fevereiro de 2008, fui convidada pela empresa a acompanhar a comitiva do Alunorte Rain Forest, esse é o nome do time. Meu trabalho era cobrir os jogos, acompanhar tudo, entrevistar, falar com a imprensa, escrever em um blog (arf2008), tirar fotos e, de quebra, trabalhar como tradutora. Pensei: “Hum... Noruega!”. Depois pensei: “Ih, 18 adolescentes de 14 a 17 anos...”. Enfim. Manda quem pode... e o resto vocês já sabem.

De fevereiro a julho, mês em que é realizada a copa, ainda tínhamos um longo trabalho, que ia de visita às redações de Belém (Tvs, rádios e jornais) até passeios culturais, para que eles conhecessem melhor a realidade do Estado que já era beeem diferente da realidade deles.

O primeiro contato que tive com o grupo todo foi em um lugar chamado “Museu Emílio Goeldi”, em Belém. Um museu que reúne fauna e flora amazônicas. E, quando se fala em fauna amazônica, obviamente, fala-se em jacaré. E em Belém, quando se fala em jacaré, fala-se em Alcino, o ícone do museu. Não sei bem ao certo quanto mede o Alcino. Uns 4 metros, talvez. Sei que é gigantesco. Todos entretidos com aquela obra de arte, quase imóvel, da natureza, quando um dos meninos diz: “Égua! Olha que vive cheio de jacaré lá em casa, mas desse tamanho aí, nunca tinha visto”. Como assim, eu perguntei. “O último que meu irmão pegou pra criar, o vizinho matou, antes de ele crescer”. Vi o quanto tinha a aprender por aí. Oslo não seria nada perto do ensinamento dessas crianças. O que era Olso perto da comunidade de “Jacaré - quara”, que essa criança morava?

Continua em breve...

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Rendição

Ainda embriagada pelo Saramago, resolvi, em seguida, assistir ao filme. Não sei se foi erro ou acerto, mas esse é um ritual invariável que me impus desde sempre: primeiro o livro, depois o filme.

Se eu tivesse ao menos dado um espaço de uma semana, talvez minha primeira impressão tivesse sido diferente. Sinto até peso na consciência de ter tido essa primeira impressão. Explico, mas não justifico: tinha acabado de ler um livro fortíssimo, com narrativas e cenários que me aterrorizavam, enojavam, mas me instigavam e encantavam. E dou de cara com um cenário limpo, tendo como referência o livro, com pessoas muito menos perturbadoras do que imaginei. E aí pensei que o Saramago tinha razão quando dizia que a filmagem tolhe a nossa imaginação.
Achei um filme lindo, uma direção sensacional, mas não impecável. Só que me achei ridícula de criticar o Fernando Meirelles, então fui procurar opiniões de quem entendesse mais de cinema do que eu, pra ver se mudava a minha opinião. Sim, não tenho problema nenhum em mudá-la e, nesse caso, até queria. Que tal uma especialista em audiovisual? Ellen Macedo me elucidou alguns pontos que já me fizeram repensar minhas próprias teorias.


Como seria um filme tal qual um livro? Um filme de horror, no mínimo. Ou, como o próprio Fernando Meirelles falou, um “filme de zumbis”. Então comecei a visualizar isso. Não, não dá... Imaginarmos um cenário de horror, tudo bem. Afinal, nós somos os responsáveis pelo que queremos ou não ver na nossa mente. Mas daí a vermos esse cenário começou a me parecer impensável... Talvez não passasse de um filme trash.

Essa idéia eu já tinha incorporado e me senti mais aliviada. Ele fez tudo o que poderia ser feito... e até conseguiu nos fazer ver uma branca cegueira. Mas ainda não aceitava, por exemplo, o primeiro cego e sua esposa como sendo orientais... e nem aquela cena do médico e da rapariga de óculos escuros ter-se passado no refeitório vazio.

Bom, dias depois resolvi assistir a todos os extras do DVD.
Aí veio aquela última cena. A ÚLTIMA cena. A mais importante, emocionante... José Saramago, quase sem voz, os olhos cheios de lágrimas, dizendo ao premiado diretor que (não com essas palavras, algo parecido) estava sentindo uma alegria comparável àquela, quando terminou de escrever o livro. Saramago, chorando, de alegria e orgulho?


Só uma frase a dizer: eu me rendo!


terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Em branco

Neste hiato entre a minha mais recente passagem por aqui e hoje, foram diversas situações que são um prato cheio pra um blogueiro: natal; fim de ano; o esforço pra desaprender minha velha gramática e aprender uma nova; a estreia (olha a nova gramática aí gente!) da quinta temporada de Lost; velhos pensamentos e aprendizados – como uma viagem que fiz em agosto do ano passado à Noruega e que ainda não consegui postar, mas este vai ser um capítulo a parte; dois noivados; um casamento (não meus, diga-se de passagem); a realização do FSM em Belém e, enfim, ler e assistir, necessariamente nesta mesma ordem, o/ao “Ensaio sobre a cegueira”. O escolhido. Acho que é um assunto pra todos os tempos, pra todas as ocasiões, pra todas as pessoas...

Meu primeiro passo é falar do livro, o preferido.

Um livro que não me acrescente absolutamente nada deve ser banido da minha mente. Um livro que já começa ensinando e, principalmente, me tornando uma pessoa melhor, vira minha bíblia.
De tudo o que eu já li a respeito, das críticas (quase inexistentes – ao livro, reitero) aos elogios, foram diversos pontos de vista destoantes. E não tem como ser diferente, já que cada um só pode transcrever o que sente se colocando no lugar daquelas pessoas sem nome. Também, nome pra quê? Aí é que vem, na minha opinião, o primeiro grande ensinamento do livro: de que é feita a sociedade? De convenções, conceitos e preconceitos, no sentido literal da palavra. O mínimo que a gente pode tirar disso tudo é que, quando vivemos no nosso limite, tudo o que aprendemos durante toda uma vida, vai por água abaixo; todas as nossas crenças, pudores e convicções. E aí também caem por terra as teorias sobre as classes, as raças, o dinheiro, ... E eu lembrava daquela velha passagem bíblica: “viemos do pó e ao pó voltaremos”. Somos todos iguais e, ainda por cima, interdependentes.

Como seria um mundo cego? Exatamente como José “Nostradamus” Saramago previu. O mundo seria completamente diferente daquilo que chamamos de “civilizado” e as pessoas bem próximas daquilo que denominamos como “animais” ou “abutres”. É que num mundo literalmente sem um sentido (o da visão) lutar pela sobrivência é muito mais difícil e completamente além do pior cenário que nós, meros mortais – com exceção do imortal Saramago – podemos imaginar. E então os julgamentos tornam-se, mais que desnecessários, injustos. E eu passo a ver como a interrogação pode mudar o sentido de tudo. São duas formas de pensar: pela vida tudo é válido. Ou, pela vida tudo é válido? E, despidos de preconceitos, entregar-se à compaixão do próximo e à nossa própria sorte é uma saída. Morrer é a outra.

E eis que tudo clareia, ou escurece, visto que a cegueira era de uma luz indescritível, ou descritível só por Fernando Meirelles. E o mundo volta a enxergar. O futuro dos personagens sem nome fica a nosso cargo, sob a nossa interpretação. E, quando fechamos a última página branca do livro, somos nós que voltamos a enxergar. Mas a enxergar um novo mundo, com outros olhos. Com os olhos de um cego.