segunda-feira, 23 de abril de 2012

Sobre a vida - ou sobrevida - em sépia

Quem me conhece de perto, sabe que eu não tenho problemas em falar da minha vida, meu comportamento, meus sentimentos. Daí a escrachá-los em um blog, é bem diferente. Tudo bem, relevem o fato de quase não ter leitores, mas me assustei com o número de visitantes enquanto estive ausente – sim, caros e fiéis – sei que vocês existem, apesar de não se mostrarem.

Embromação terminada, resolvi falar de uma doença da qual eu sofro e pensei que várias pessoas também podem estar suscetíveis a convalescer deste mal. Assim sendo, mais do que um post autoinvasivo, este pode ser um post de utilidade pública.

Já consegui despertar curiosidade suficiente para vocês se perguntarem que doença é esta? Pois bem, eu vivo em sépia, pobre de mim. Não denotativamente, diga-se de passagem... sei lá, vai que tem algum tipo de daltonismo que faz as pessoas enxergarem em tom “amarronzado”. Meu caso é de viver meio no passado, meio romanticamente, meio nos filmes.

Bom, não sou uma pessoa muito românica at all, mas teimo em acreditar que a minha vida é um filme. Desde sonhar com as atitudes mais simples, como acordar de cara inchada, colocar um rabo de cavalo, um pijama, meus óculos de “Beth, a Feia” e ainda assim, o marido ser capaz de dizer que sou sensual – não, isso não acontece comigo – só com a Scarlett Johansson... Até as mais complicadas, como acreditar que a vida é simples e escolher – no meio de um grande problema – esquecer dele e voltar a sorrir, como se eu estivesse pronta para a próxima película. Vivo em sépia desde criança e isso era perceptível no meu comportamento em relação às demais: enquanto elas brincavam de amarelinha, eu preferia escrever pecinhas de teatro, aos sete anos – este pode ser o sintoma inicial – Fuja!

Outro sintoma de viver em sépia é acreditar que as artes descrevem de forma absoluta a sua vida e que a sua vida vai ter um desfecho exatamente igual ao de uma música ou uma poesia, por exemplo. É ler e acreditar que a história dos livros é real e, não só isso, é acreditar que você é a personagem principal. Que as pessoas vão te descrever como tendo “riso doce, tez rosada e voz aveludada”. Não, isso não acontecerá, a menos que tenha casado com Neruda ou Vinícius . É crer que suas boas ações vão ser reconhecidas, como se milhões de espectadores o estivessem assistindo – mas eles não estão, ou que suas vergonhas serão expostas – mas não serão.

Viver em sépia tem alguns sintomas agudos e graves (com perdão da expressão musical. Neste caso, não há antonímia): a frustração é um deles. A desilusão, outro. É fato que as pessoas vão, em algum momento, te condenar e querer curar a sua doença a qualquer custo. Mal sabem os sãos que ela é incurável.

Viver em sépia é estar dentro do filme “Meia-noite em Paris” e ter que conviver com a frustração quando não se tem Hemingway e F. Scott Fiztgerald como amigos íntimos. É ser a Amélie Poulin sem sê-la e ir estudar francês porque a sua vida é em sépia e quem vive em sépia fala francês melhor do que português ou inglês.

Saiba que se você vive em sépia, você deve ser uma das mil, em sete bilhões de seres, segundo dados da minha própria cabeça. Ou seja, vivemos em uma tribo isolada. Mas isso não é motivo para alarde. Nos disfarçamos bem de cidadãos comuns, capazes de fazer contas e acordar cedo.

Aliás, pra se viver em sépia plenamente, acredito que só se Oscar Wilde casasse com Dostoiéviski e desse uma cria com pedigre. Outra forma, impossível. (citação meramente ilustrativa).

Ainda não deu pra captar a ideia e definir se você sofre ou não do mesmo mal? Bom, listarei aqui alguns sintomas do vivedor – ou sobrevivedor – em sépia, que também pode ser chamado de cidadão sepiano: acreditamos na bondade Pollyanesca das pessoas; acreditamos que o amor é para sempre e que viveremos eternamente apaixonados (mas lembrem-se, só nós viveremos eternamente apaixonados – cuidado para o sintoma da frustração não te consumir neste momento); queremos agir igual à Holly Golightly e fazer tudo o que nunca fizemos na vida em um dia – como, por exemplo, tomar champanhe no café da manhã, e não ter ninguém que nos desiluda nesta hora. Temos sim é que ter alguém que nos acompanhe em vez de cortar esse rompante da doença (os cortes bruscos doem); nós assistimos aos nossos amores dormindo, os cobrimos no frio, os descobrimos no calor, beijamos suas bocas enquanto dormem, os abraçamos e chegamos a chorar de felicidade por tê-lo ao nosso lado – mas ainda assim podemos ser incompreendidas (não os culpem... lembrem-se que somos poucos os doentes); dançamos valsa no meio da rua sem “amarelar” – e é de verdade, de vontade, por estarmos felizes quando nos permitem sê-lo!

Nós, os sepianos, vivemos neste mundo, mas não vivemos.

Estamos neste momento, mas não estamos.

Nós acreditamos que ainda vamos morar fora. Do mundo real.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Estamos voltando

Quem sabe com coisas pra falar, quem sabe com espaços em branco. Fato é que estamos aqui. Eu e o blogue, de novo!