segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Rendição

Ainda embriagada pelo Saramago, resolvi, em seguida, assistir ao filme. Não sei se foi erro ou acerto, mas esse é um ritual invariável que me impus desde sempre: primeiro o livro, depois o filme.

Se eu tivesse ao menos dado um espaço de uma semana, talvez minha primeira impressão tivesse sido diferente. Sinto até peso na consciência de ter tido essa primeira impressão. Explico, mas não justifico: tinha acabado de ler um livro fortíssimo, com narrativas e cenários que me aterrorizavam, enojavam, mas me instigavam e encantavam. E dou de cara com um cenário limpo, tendo como referência o livro, com pessoas muito menos perturbadoras do que imaginei. E aí pensei que o Saramago tinha razão quando dizia que a filmagem tolhe a nossa imaginação.
Achei um filme lindo, uma direção sensacional, mas não impecável. Só que me achei ridícula de criticar o Fernando Meirelles, então fui procurar opiniões de quem entendesse mais de cinema do que eu, pra ver se mudava a minha opinião. Sim, não tenho problema nenhum em mudá-la e, nesse caso, até queria. Que tal uma especialista em audiovisual? Ellen Macedo me elucidou alguns pontos que já me fizeram repensar minhas próprias teorias.


Como seria um filme tal qual um livro? Um filme de horror, no mínimo. Ou, como o próprio Fernando Meirelles falou, um “filme de zumbis”. Então comecei a visualizar isso. Não, não dá... Imaginarmos um cenário de horror, tudo bem. Afinal, nós somos os responsáveis pelo que queremos ou não ver na nossa mente. Mas daí a vermos esse cenário começou a me parecer impensável... Talvez não passasse de um filme trash.

Essa idéia eu já tinha incorporado e me senti mais aliviada. Ele fez tudo o que poderia ser feito... e até conseguiu nos fazer ver uma branca cegueira. Mas ainda não aceitava, por exemplo, o primeiro cego e sua esposa como sendo orientais... e nem aquela cena do médico e da rapariga de óculos escuros ter-se passado no refeitório vazio.

Bom, dias depois resolvi assistir a todos os extras do DVD.
Aí veio aquela última cena. A ÚLTIMA cena. A mais importante, emocionante... José Saramago, quase sem voz, os olhos cheios de lágrimas, dizendo ao premiado diretor que (não com essas palavras, algo parecido) estava sentindo uma alegria comparável àquela, quando terminou de escrever o livro. Saramago, chorando, de alegria e orgulho?


Só uma frase a dizer: eu me rendo!


2 comentários:

Anónimo disse...

Se Saramago é por Meirelles, quem será contra ele?

Anónimo disse...

amiga..tu es muito intelectual, para de escrever neste blog, e vai escrever um livro. Ta na hora ne amiga, de realizares este sonho!