quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Coisas que definitvamente só acontecem comigo.
Ai, tava dando um descanso pra isso aqui, mas agora vou retomar “dicumforça”.
Pra usar uma expressão bem paraense pra retratar uma situação típica do Pará: É-G-U-A!!!!! Quando a gente acha que o dia vai ser calmo, que nada vai acontecer, não é que de repente acontecem as coisas mais inusitadas, como um astro do rock pintar na empresa ou, de repente, os militantes sem-terra fecharem a estrada?!
Bom, ontem foi a vez justamente dos sem-terra.
Não estou aqui pra tomar partido de nada, já que a intenção desse blog só resvala na política, bem de levinho, mas putz...
Logo cedo tive uma reunião ultra-mega-hiperimportante. Logo após a reunião, marquei uma outra pra passar o superbriefing à agência, já que seria uma campanha interna. Teria que estar na agência às 13h30, por isso, saí de Barcarena às 12h em ponto.
Não costumo ler no carro, morro de medo de ter um descolamento de retina, ainda mais nessas estradas que são um “Tapete”, que ligam Barcarena a Belém. Terremoto pra quê, pra quem tem que andar diariamente por essas estradas? Mas não estava conseguindo largar a Anne Frank. Entrei no carro ansiosa por ler. Por mais que eu só conseguisse ler uma frase a cada 15 minutos, por causa do balanço nada gostoso, fui lendo até o enjoo me vencer.
Quando, finalmente, ele venceu o 12º round, resolvi dar “aquela” cochilada. Eis que nem bem fechei os olhos, o motorista está cutucando meu braço: “Senhora, os sem-terra fecharam a estrada pra Belém”. Eu comecei a sair do estado alfa, abri os olhos inflamados com calma, vi a fila de uns 30 caminhões e, claro, tive a feliz ideia de pelo menos ligar pra agência pra dizer que os sem-terra estavam impedindo a minha passagem dali pra um mundo melhor, mas adivinha? É claro que àquela altura da estrada não pegava nem sinal fumaça, quanto mais de celular. Eles teriam que se conformar com o meu atraso.
Mas aí o motorista teve uma luz: “olha, tem outro carro meu lá do outro lado da estrada. Só andar um pouquinho e você consegue pegar e continuar a viagem”. Eu: “Andar quanto?”. Ele: “Ah! Uns 800 metros”.
Abri a janela do carro, senti aquele bafo de 100 graus Celsius à sombra e achei melhor declinar da ideia. Respondi: “Vamo esperar mais uns 15 minutos, né?! Se eles não liberarem, a gente tenta”.
Passou meia hora e nada. Aceitei. Vamos lá!
Tirei meu blazer, porque definitivamente os sem –terra não gostam de “pessoas-de-empresas-que-usam-blazer” e comecei minha caminhada rumo ao próximo carro. Sorte é que o motorista era simpático e carregou minha mochila que só podia ter uma bigorna dentro.
Fiquei moreníssima... Vocês não têm noção do que é andar pela estrada com 100 graus à sombra... E lá se foram os 800 metros. Aí cheguei até a barreira dos sem-terra. Uns 50, 60, 80 homens, sei lá. E árvores, então... nem sei quantas morreram pra eles fazerem a barricada. Um fogaréu só... Respirei fundo e fui.
Quando estou prestes a queimar meus sapatinhos, aparece um policial dizendo que não é mais permitido passar, porque os sem-terra iam liberar a pista.
Aaaaai... mais 800 metros de volta. Mais sol escaldante... 1,6 km... já posso correr maratonas inteiras! E, adivinha? Os sem-terra liberaram a pista? Claro que não. Minha viagem, que seria de uma hora e meia até Belém já tinha uma hora e meia só no carro.
Mas tinha uma grande sorte: Anne frank estava na minha bolsa... Consegui avançar mais de 100 páginas do seu diário e, ah, meu Deus! Como estou íntima dela... Como ela conseguia ser tão adorável.. E que menininha inteligente e madura, tão jovem que era... Consegui me abster completamente daquele mundo dos sem-terra a minha volta e entrar no dela, bem pior e mais cruel. Nem me dei ao direito de ficar irritada com todo aquele cenário típico de “matéria-do-Pará-no-jornal-Nacional”.
Ainda não cheguei ao final do diário, mas tem uma parte que ela fala assim: “Se Deus me deixar viver, vou realizar mais do que mamãe jamais realizou. Vou fazer com que minha voz seja ouvida, vou para o mundo, trabalharei pela humanidade! Agora sei que primeiro é preciso coragem e felicidade”.
Bom, apesar de ela não ter vivido tanto o quanto desejava, como todos sabem, a voz dela continua, até hoje, ecoando. Acho que Anne alcançou o objetivo dela.
Mas já pulei de um post para o outro. E esse, da Anne, ainda faltam pelo menos 73 páginas pra eu construir.

3 comentários:

bia disse...

oi cissi...
adorei este post.
me manda um eamil com as noticias, meu pc nao tem MSN.

te amoo

Dany disse...

Anne Frank tinha razão: coragem é palavra primordial pra tudo. Inclusive pra encarar o sol, o calor e os sem-terra do Pará! Beijo, meilleure!!!

Luiz Marques disse...

Fazia tempo que eu não passava por aqui... adoro! Fico imaginando você com cara de sono colocando a cabeça pra fora do carro e sentindo os 100° C, uhauahuaha... bj bj!