quinta-feira, 2 de abril de 2009

Fé x Religião

Baseado em fatos reais

Era pra lá de setembro, outubro de 1992 e eu estava no alto dos meus 10 anos. Bem naquela época em que 99,99% das crianças católicas eram (antigamente) obrigadas a fazer aulas de quê? CATECISMO.


Pois bem... qual a criança, na flor da idade, queria estar às sextas-feiras, das 14h às 18h, trancafiada numa sala aprendendo coisas pra fazer 1ª Eucaristia? A Primeira Comunhão eu queria fazer, achava ótimo se confessar, comungar, era o máximo... Mas nunca esperei ter que assistir às aulas de catecismo antes. Isso não fazia sentido nenhum pra mim. Principalmente às sextas feiras, quando já tinha me livrado de uma semana de escola, além do jazz, balé, inglês, aulas de lambada, natação, sapateado etc. (Sim! Eu fazia todas essas).

Como a minha mãe tinha bom senso, de tempos em tempos ela me deixava escapar das aulas de catecismo ministradas no salão paroquial de uma igreja tradicionalííííííííssíííííma de Belém.

E a história toda começa aí...

Um belo dia, que eu já ia escapar de novo, cheguei no colégio dizendo assim pra um amigo meu (que também era da minha sala no catecismo e meu amigo até hoje): “eba! Hoje vou faltar de novo na aula de catecismo”. Aí ele me vem com essa bomba: “Renata, hoje tem prova escrita”. Hã? Como assim?

Bom, cheguei em casa e não podia fazer nada sem dar “aquela” descansada depois do almoço (paraense devia ser obrigado a fazer a sesta), e deixei os livros de lado. Acordei, tomei banho, me vesti e disse: estou pronta... Vamos à prova! É quando vem a pergunta óbvia da minha mãe. “Você estudou?”. Hum... Uma lida rápida no elevador resolveria. Afinal, são 13 andares e o elevador nem é assim tããão rápido. No carro não dá, eu fico com enjoo.

Cheguei na sala e todos já estavam concentrados, com suas provas em mãos. Peguei a minha, respirei fundo e pensei: vai que é tua, Renata!

Primeira questão: o que é vocação? Ué...
R: “Vocação é aquilo que a gente já nasce sabendo fazer alguma coisa”. O que mais seria?

Respondida a primeira questão, parti pras outras. Algumas eu não lembro bem, mas outras me marcaram tanto... não sei bem o porquê.

Tinha uma que era assim:
Qual foi o monte que Moisés subiu e tal? Essa eu tinha lido no elevador! Sabia a resposta! Começava com “S” e terminava com “I”... hummmm... pensei, pensei. JÁ SEI!

Monte SAMURAI.

E taquei isso na prova!

Muito bem, continuemos... Minha prova tava só sucesso...
Aí veio uma outra questão: “Escreva quem falou as frases abaixo”.
Essa eu sabia... A primeira frase tinha sido Jesus, a segunda tinha sido Maria, a terceira era do Pôncio Pilatos e a quarta...
...
Ué, mas quem disse “Jesus, o vinho acabou”? Jesus não era... Maria não podia ser, porque ela já tinha falado a frase número 2. Aí eu parei pra pensar. Contextualizei... Fiz filminho... A resposta não vinha!
...
Aí tudo ficou tão óbvio!!! Claaaaro!!! Ué, quando o vinho acaba, quem pode nos informar isso? Aháááá!!!!
Resposta: Quem falou a célebre frase “Jesus, o vinho acabou” foi o.... GARÇOM! É claro! Como eu pude ficar em dúvida?! Pronto! Terminei a prova.

Minha mãe já estava lá na porta esperando e eu comecei a tirar as dúvidas com ela...
-Mãe, qual o nome do Monte do Moisés?
- Sinai
- Hummm... Escrevi Samurai

Ela ficou perplexa! Aí depois veio a próxima

- Mãe, quem disse a frase tal?
- Maria, minha filha
- Ai, mãe, deixa de ser boba... Maria falou a frase 2. Essa era a frase 4.
- Sim, mas também foi ela. Por que, Renata, o que você escreveu?
- Ora, o garçom...

Acho que ela só não desmaiou porque estava dirigindo... Ficou calada por um bom tempo. Devia estar pensando: “Criei um monstro”.

Não contente com tudo o que aconteceu, ela foi doar roupas no salão paroquial e a Tia Isabel, minha professora, que obviamente não sabia que ela era minha mãe, soltou:

- Ora, onde esse mundo vai parar? Hoje ninguém mais conhece a Bíblia. Você acredita que uma aluna assim, assim escreveu Monte Samurai e o Garçom?

E a mamãe:
- Meu Deus, que absurdo, minha filha jamais faria uma coisa dessas!

Resultado da prova: 3,0. Mas eu FIZ Primeira Comunhão! Acho que a Tia Isabel pensou que eu tivesse algum problema e me liberou!

Será que esse é um bom post pras vésperas de Páscoa?

Bom, as crianças, Deus perdoa.
E eu posso até não ser boa em religião, mas minha fé... Essa continua sendo inabalável!

9 comentários:

Anónimo disse...

Se este post tivesse aparecido por aqui ontem (1º de abril) diríamos que era mentira. Estratégias à parte, só posso concluir que desde pequena a moça não aceitava perder, nem que fosse na prova de Catecismo. E olha que até foto com Jesus já entrou na pauta após essa grande revelação...
Mas tudo bem, Rê. A gente (e Jesus, principalmente) perdoa. Afinal, se é para estar bem com o Papai do Céu, vale tudo.

Bjs

Ellen

Anónimo disse...

Quero deixar registrado que esse amigo aí que tentou inutilmente te ajudar te avisando da prova era eu. Edita esse blog e me dá os créditos, ou descreditos por ter participado dessa história, hehehhehehe.

Bjs

Igor Sales

Anónimo disse...

nooooossa... vou começar a ler mais tuas aventuras.... vamos ver se eu participo de alguma delas.. rsrsrsr
beijos
Mel

Anónimo disse...

e sim.. falei "A" venturas no modo correto.... só minha prima superinteligente para falar tão bonito e transformar tudo em uma superaventura.... gostou? usando a nova regra... rsrsrsrs
beijos
Mel

Luiz Marques disse...

Ilário!!!!! Ri muito lendo isso, parece que te vejo criança toda doidinha pensando nisso.

bia disse...

desta eu ja sabia!!
mas e muito engracado mesmo. eu odiava ir as aulas e morria de medo de me confessar,achava que o padre ia falar tudo pros meus pais. hahahahahah

Ai Jesus!

Anónimo disse...

Bora...escreve mais!!!

As vezes te dou moral e venho aqui "chorar" com as tuas palavras!!! Auhauhahua....essa mamãe mente!!!!

BETA

Luiz Marques disse...

PROTESTO!
Fica aqui minha reclamação como fiel leitor e seguidor deste blog, pois sua última atualização foi feita há 5 semanas atrás, MAIS DE UM MÊS, sem novas venturas.

WOLF disse...

Excelente história, Estherzinha! Infelizmente a tua alma está condenada, mas disso nós já sabíamos, não é verdade? Hahahaha, Monte samurai foi demais!

Não conta pra ninguém, mas na prova de literatura da UFPA (1992) tinha uma questão que perguntava simplesmente quais eram os personagens centrais de um livro lá que eu nem lembro mais qual é. Dada. Bastava que eu tivesse lido ao menos a orelha do livro para conseguir responder essa. Bom, mas a vida não é perfeita e eu não sabia nem que cheiro tinha o tal do livro. Também contou o fato de que eu já tinha passado na Unama. Sei que tasquei na prova Huguinho, Zezinho e Luizinho. Essa pérola maravilhosa conseguiu ser publicada em O LIBERAL entre as melhores do vestibular naquele ano. Claro que eu só confessei bem depois. Grande feito meu.