quinta-feira, 20 de maio de 2010

Com a inspiração de Chico

Vim aqui lhe falar sobre a mulher do Aníbal. Ela era a moça do sonho, a mais bonita, mas um belo dia ela desatinou e o velho Francisco comentou:

- Olha, Maria, essa moça tá diferente!

- Deixe a menina, ela está na flor da Idade.

- Ora... Quem te viu, quem te vê, Bárbara.

Bárbara, esse era o seu nome.

Tudo começou quando, outra noite, vestida na camisola do dia, ela ouvia os cantores do rádio entoando qualquer canção. Aníbal ainda não chegara. Estava, de certo, com o copo vazio, em alguma conversa de botequim. Bárbara o aguardava com a brisa do mar beijando seu rosto.

Era meia-noite, lua cheia.

- Onde é que você estava? Está caindo pelas tabelas!

- Ê, mulher faladeira. Fui ao funeral de um lavrador.

- De certo estavas na ilha de Lia ou no barco de Rosa!

Aníbal se aproximou, tocando em seus braços.

Bábara avisou:

- Tira as mãos de mim!!!!! Foi a Gota D’água. Quando eu for, eu vou sem pena.

- Cala a boca, Bárbara!

- Você não sabe amar!, retrucou.

Cansada deste amor barato, Bárbara resolveu prestar uma última homenagem ao malandro. Sem dizer uma palavra, partiu como uma pássara.
 Com um choro bandido engasgado, o marido caiu em desalento.

Bárbara foi atrás de Pedro Pedreiro, sem compromisso, sem fantasia.
 Apresentou-se como Ana de Amstersdã. No meio da Construção, seguiram amando sobre os jornais.

No dia seguinte, pegou cem mil reis, dinheiro em penca, e voltou pra casa.

Acordou o marido.

- Vai trabalhar, vagabundo!

Ele ainda murmurava:

- Mulher, vou dizer quanto eu te amo.

Sentimental, ela chorou...

Ele sussurrou...

- Já passou! Fica!

Ela anuiu...
...e eles fizeram samba e amor até mais tarde.

* Texto escrito com títulos de canções de Chico Buarque de Holanda

Sem comentários: