Vim aqui lhe falar sobre a mulher do Aníbal. Ela era a moça do sonho, a mais bonita, mas um belo dia ela desatinou e o velho Francisco comentou:
- Olha, Maria, essa moça tá diferente!
- Deixe a menina, ela está na flor da Idade.
- Ora... Quem te viu, quem te vê, Bárbara.
Bárbara, esse era o seu nome.
Tudo começou quando, outra noite, vestida na camisola do dia, ela ouvia os cantores do rádio entoando qualquer canção. Aníbal ainda não chegara. Estava, de certo, com o copo vazio, em alguma conversa de botequim. Bárbara o aguardava com a brisa do mar beijando seu rosto.
Era meia-noite, lua cheia.
- Onde é que você estava? Está caindo pelas tabelas!
- Ê, mulher faladeira. Fui ao funeral de um lavrador.
- De certo estavas na ilha de Lia ou no barco de Rosa!
Aníbal se aproximou, tocando em seus braços.
Bábara avisou:
- Tira as mãos de mim!!!!! Foi a Gota D’água. Quando eu for, eu vou sem pena.
- Cala a boca, Bárbara!
- Você não sabe amar!, retrucou.
Cansada deste amor barato, Bárbara resolveu prestar uma última homenagem ao malandro. Sem dizer uma palavra, partiu como uma pássara.
Com um choro bandido engasgado, o marido caiu em desalento.
Bárbara foi atrás de Pedro Pedreiro, sem compromisso, sem fantasia.
Apresentou-se como Ana de Amstersdã. No meio da Construção, seguiram amando sobre os jornais.
No dia seguinte, pegou cem mil reis, dinheiro em penca, e voltou pra casa.
Acordou o marido.
- Vai trabalhar, vagabundo!
Ele ainda murmurava:
- Mulher, vou dizer quanto eu te amo.
Sentimental, ela chorou...
Ele sussurrou...
- Já passou! Fica!
Ela anuiu...
...e eles fizeram samba e amor até mais tarde.
* Texto escrito com títulos de canções de Chico Buarque de Holanda
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