quinta-feira, 12 de março de 2009

Aprendizados II




Nossa, como demorei... A preguiça tomou conta do meu corpo. Só hoje consegui expulsá-la. Então, continuando...

Acabando os eventos culturais em Belém, tudo estava pronto pra partirmos pra Oslo. Só que, antes, uma paradinha no Rio de Janeiro. Hora do tão temido avião: dor de barriga, tremelique, pânico. Até aterrissar. Aí depois veio o Cristo mais lindo e um hotel de frente pra... PRAIA. Tudo se acalmou. Me arrisco a dizer que 90% do grupo nunca tinha visto o mar. Gente, a quantidade de meninos provando aquela água... e a minha preocupação! Enfim, nada aconteceu... Gracias!

No dia seguinte, treino no Flu: Renato Gaúcho, Conca, Somália e tantas outras estrelas que eles só viam pela TV (quando a tinham) e agora estavam ali, frente a frente. Teve menino que só não saiu com o rosto autografado porque ia ficar feio. O almoço, ainda no clube, com direito a muito feijão. “Quero comer feijão. Aquela comida do hotel era muito fraca, não dava sustança”, disse um dos meninos que deve ter comido algo tipo salmão com alcaparras no hotel. Mas, realmente, a sustança que aquele feijão e aquela picanha me deram, deu pra agüentar os próximos 15 dias que estariam por vir.

À noite, o embarque para Oslo. Já familiarizados com o avião, o voo de 12 horas até Paris foi moleza. Algumas horas de espera no Charles De Gaulle, muito McDonald´s e a rodada mais cara de água que esses meninos já tomaram na vida. Obviamente, eles nem faziam ideia disso.

Algumas horas depois, chegamos a Oslo. Tudo tranquilo, até o menino que me falou do jacaré constatar que a mala dele tinha sido extraviada. Palavras dele: “mas não tem problema não. Só tinha uma bermuda e duas camisas. Eu tenho o uniforme pra ficar usando”. Eu fiquei pensando que se fosse a minha mala, eu estaria fazendo escândalo. Pra ele, bastava o que ele tinha na mochila. Aliás, eu preciso dizer que este foi um dos maiores corações que já tive contato em toda a minha vida. Ele tinha 15 anos, na época... Mas era tão adulto.

Fui lá tentar resolver o extravio da mala. Garantiram-me que em 24 horas, estaria de volta com ele. Estávamos mesmo na Noruega.
Quando saímos do aeroporto, às 22h30, ainda fazia sol! Não sei o que brilhava mais, se o sol ou os olhos deles.

Os dois dias seguintes foram de City Tour, sob responsabilidade da Norsk Hydro, acionista da Alunorte, que tomou conta da gente neste período. Além do city tour, tinha intercâmbio com jamaicanos, eslovacos, suíços etc. Naquela linguagem do sinal mesmo...
Enfim, chegou a Copa. E, para encurtar história, nossos meninos foram campeões pela final B do torneio mundial. Durante os vários dias de jogos, o feijão, que dava a sustança, transformou-se em pão, caviar, geleia, queijo, salame e patê de salmão. No final do campeonato teve churrasco. Adivinhem? Hambúrguer e pão! Eles já clamavam por feijão! Eu também.

O passeio mais especial foi guardado pro último dia em Oslo.Um passeio de barco, entre os fiordes noruegueses. Perguntei a um dos meninos mais humildes (ele mora em uma casa de pau-a-pique, em uma ilha onde nem carro entra, seus pais trabalham como catadores de açaí e artesãos): “E aí, tas gostando do passeio?” Ele disse: “Tô, mas to achando tudo muito parecido com a Ilha de Trambioca. Cheio de barcos (eram iates), árvores (eram coníferas) e casas (eram mansões). A única diferença é que as casas são um pouco mais bonitas e que as árvores não foram derrubadas”. É o jeito simples – e certo – de ver a vida. “E o que você tá gostando mais, então?” “Que tá chegando a hora de ir embora, rever meus pais e tomar açaí”.

Realmente, a hora da volta tinha chegado. Em vez de ficar no aeroporto, desta vez fomos fazer um city tour em Paris, com direito almoço no McDonald's da Champs Elysees (o lugar que eu mais conhecia em Paris), Torre, Notre Dame, Arco, Louvre. E bocas abertas. Ah... isso sim era diferente da Ilha de Trambioca! Agora ele gostou.

E chegou o momento de partir. Rio de Janeiro, aqui vamos nós novamente. Agora era vez do feijão e do churrasco, no Porcão. “Égua, tirei a barriga da miséria”, frase de um dos campeões.
Pão-de-açúcar, shopping.
Antes das compras, cada um deles recebeu uma certa quantia para poder aproveitar o shopping. Vi muitos deles, envergonhados, guardando o dinheiro e sem gastar nem um centavo. Pra alguns, perguntei: “Prefiro levar pros meus pais”, foi o que eles me disseram. Outros, não compraram nada pra eles mesmos. Um comprou ursinho pra irmã e guardou o restante. Outro, ainda mais humilde, foi escolher um presente pro pai. “Renata, o que ele vai preferir? Um cinto ou uma cueca?”. Acho que a cueca sempre é mais útil. Homem tem mania de usar sempre o mesmo cinto. E ele comprou, dizendo que o pai ia ficar muito feliz. Tendo guardado boa parte do dinheiro, sobraram 29,00 pra comprar um perfume. Ele encontrou um de 32,00. “Vale a pena mexer no dinheiro que eu havia guardado. O perfume é muito bom, é francês”.

Embarcamos de volta pra Belém, com muita festa. Famílias no aeroporto pra receber os campeões com a taça nas mãos. Aí tive uma surpresa: minha mala tinha sido extraviada.

E daí?

Agora eu já sabia como reagir a essas ínfimas situações.

4 comentários:

Anónimo disse...

Sensacional! Sou teu fã! By the way, você só escreve quando eu reclamo que está demorando muito...

Renata Freitas disse...

É verdade!!!
Agora tens que cumprir a promessa de colocar no orkut Leitura preferida: blog da Renata! eheheheheh
Beijo

Anónimo disse...

Adorei tambem amiga..
DEve ter sido lindo poder participar desta viagem com estes meninos tao humildes...Acho que teria chorado na hora da partida!

Unknown disse...

bom ver que tu estás vivendo umas boas "venturas"
bjs moça